O Serpro vem correndo contra o relógio para colocar no ar ainda este ano a sua versão de “nuvem soberana”. E, para tanto, a diretoria tem se reunido com multinacionais provedoras do serviço atrás de soluções que possam agradar o governo. Na última terça-feira, por exemplo, por convite do presidente da estatal, Alexandre Amorim, a diretoria manteve um encontro com representantes da AWS (Amazon Web Services), cuja pauta do encontro era “Segurança da Informação”. Interessada em vender mais serviços ao governo, a multinacional jogou pesado. Trouxe da Califórnia para o encontro o seu executivo sênior Sean P. Roche, que desde 2021 vem ocupando o cargo voltado para “soluções globais de segurança nacional” na companhia.
Sean Roche foi vice-diretor da Diretoria de Ciência e Tecnologia da Agência Central de Inteligência (CIA) entre os anos de 2015 a 2019, responsável pela digitalização de todas as missões da agência, além de supervisionar as diferentes operações de inteligência, incluindo inteligência cibernética e coleta de dados.
Militar da Força Aérea norte-americana, tendo se aposentado como coronel, Sean Roche participou de operações na Bósnia, Iraque e Afeganistão e foi condecorado com vários prêmios presidenciais e militares. Recebeu o maior prêmio da CIA por promover a diversidade, inclusão e equidade na força de trabalho.
Em seu currículo, Sean é descrito como um executivo que liderou “equipes altamente especializadas no desenvolvimento e implementação de tecnologias de ponta para coleta de inteligência. Sua contribuição às operações de contraterrorismo foi amplamente reconhecida por vários presidentes, congressistas e líderes internacionais”.
O que foi apresentado pela AWS como proposta de serviços para a “nuvem soberana” do Serpro ninguém ficará oficialmente sabendo. Mas o fato por si só acaba com a mística de que a estatal realmente desenvolveu algo próprio, sem o auxílio de empresas internacionais, para depois chamar de seu projeto ou de “soberano”. Até que ponto essa nuvem serpriana terá ingredientes de AWS já testados antecipadamente pela CIA é cedo para se descobrir. O futuro se encarregará disso.
Aliás, sendo uma reunião para tratar de uma estratégia de governo, a direção da Dataprev também não deveria ter participado dela? Não consta que algum técnico ou representante da diretoria desta estatal tenha participado da reunião como “extra-agenda”, apesar de que, da boca para fora no governo, as duas empresas façam sempre o discurso de serem parceiras na construção de uma nuvem verde-amarela, cujos dados brasileiros estarão protegidos da bisbilhotice estrangeira.
*Principalmente, da CIA.