Por Javier Marbec* – Nos últimos dez anos, temos visto um movimento crescente de empresas brasileiras e de toda a América Latina ampliando presença em mercados internacionais, sobretudo regionalmente. Diante disso, é importante compreender que existem condições determinantes para potencializar o sucesso dessa expansão internacional das empresas latinas.
Falo isso porque, acompanhando os esforços de internacionalização de diversas empresas na região há anos, sei que não é uma tarefa fácil estabelecer toda a estrutura de negócio em um país vizinho, principalmente por conta dos desafios administrativos e legais. De acordo com o primeiro Barômetro Global Latam de Internacionalização de Empresas Latino-Americanas, estudo desenvolvido pela SEGIB (Secretaria-Geral Ibero Americana), o principal obstáculo para as companhias da região é a regulação no país de destino, que costuma ser muito diferente em cada uma das nações do continente. O segundo empecilho apresentado pelo estudo é o sistema tributário dentro do próprio país, que implica em mudanças significativas na tributação para atividades das operações e vendas realizadas no exterior.
Quando observamos estes dois principais desafios, concluímos que o conhecimento regional é essencial para cruzar fronteiras e adentrar territórios completamente novos. Isso sem contar aspectos mais subjetivos como costumes, dialetos – cada país usa termos diferentes para processos fiscais e legais – e rotinas de cada cultura. Minha experiência dando suporte a empresas na gestão internacional e intercultural me ensinou que há um poder muito particular quando os valores da corporação são respeitados e sua essência é mantida. No entanto, para além dos propósitos, as estratégias devem ser adaptadas. É necessário compreender a cultura e as necessidades locais para que as práticas de gestão, RH, obrigações tributárias e legais estejam alinhadas e, consequentemente, sejam obtidos resultados efetivos.
Se você estuda uma estratégia local to global não cometa um dos erros mais comuns: reproduzir as mesmas práticas de negócios que fizeram sucesso na matriz achando que elas funcionarão em outro país. Além de desenvolver um extenso estudo de mercado, é fundamental analisar de maneira inteligente os dados iniciais da operação no exterior para compreender como estão se comportando os diferentes stakeholders e processos da companhia. Posso lhe garantir que assim fica mais fácil identificar melhorias, possíveis gaps, oportunidades de economia de recursos e ter uma visão completa sobre como atuar neste novo mercado.
Olhando para esse desafio, fica evidente o quanto é fundamental investir em tecnologia que ofereça a estrutura de gestão que esteja à altura dessas demandas, e que ao mesmo tempo, ofereça a expertise necessária para estar em compliance com as exigências e particularidades de cada país. Além de uma visão estratégica da operação, a tecnologia é uma importante aliada para entender de maneira profunda o mercado local.
O primeiro passo pode parecer básico, mas é fundamental: começar este processo com um bom sistema de gestão (ERP), que possa ser integrado com a matriz e esteja 100% ajustado para as necessidades de cada país. Isso faz toda a diferença tanto para as obrigações administrativas, quanto para as atividades do core business da empresa. Superar de maneira rápida e eficaz essa etapa é fundamental para o sucesso em curto, médio e longo prazo. Por isso, é imprescindível que todos os parceiros – sobretudo os de tecnologia – tenham a robustez, capacidade de investimentos, capilaridade, equipe local preparada e experiência necessárias para garantir suportar diferentes desafios que surgem durante essa trajetória.
Mas, apesar dos obstáculos existentes, outro dado do Barômetro Global Latam mostra que os empreendedores estão otimistas com futuras expansões na região. A maioria dos entrevistados (63%) planejavam iniciar ou aumentar o investimento no exterior, e quase metade (46,6%) seria orientada para a América Latina.
O sucesso dessa expansão passa pelo equilíbrio entre aspectos globais e locais. Estude muito o cenário atual da companhia, o mercado a ser desbravado, entenda as melhores práticas e faça alianças com empresas que conheçam as nuances da estratégia local to global. É possível minimizar os percalços dessa trajetória com o apoio e parceria de players experientes, que te apoiem em uma internacionalização inteligente, eficiente e bem-sucedida, independente do destino que você queira ir.
*Javier Marbec – diretor dos hubs Sul, Norte e Andina da TOTVS .