Presidente da Dataprev promete “boa privatização” se funcionário se comportar direitinho

Este site teve acesso a gravações de uma reunião realizada na última quinta-feira entre a diretoria e os funcionários da Dataprev. O conteúdo das gravações apenas deixa claro que a diretoria não foi chamada a opinar sobre a inclusão da Dataprev na lista de privatizações.

E ficou patente que, se fosse chamada, provavelmente não falaria contra a venda da empresa.

Não há nas gravações um só diretor que se posicionasse diante dos funcionários como sendo contra a privatização. Todos foram unânimes ao dar o fato como consumado.

A presidente Christiane Edington participou da videoconferência, que ocorreu justamente na semana que o Ministério da Economia divulgou a lista das empresas que serão privatizadas após estudos técnicos. “Um tema que afeta todos nós”, disse ela em determinado momento.

Não, não afeta não. Não basta se colocar na primeira pessoa do plural que tudo está resolvido. Os diretores não serão vítimas de uma privatização igual aos funcionários.

Os diretores não são dos quadros da empresa, não podem se inserir nesse contexto. Entraram lá apenas por critérios políticos, foram nomeados apenas para executar um trabalho. E sabe-se agora que este será o de tentar manter a empresa ativa, com o moral elevado, mesmo sabendo que está com os seus dias contados.

O que “afeta” é a percepção dos trabalhadores sobre como será o seu futuro. Por experiência de quem já cobriu outras privatizações, a tendência natural será o corpo funcional se dividir. Entre aqueles que acham que continuarão necessários e irão sobreviver à degola, se e quando forem vendidos, e os que de antemão já não conseguem vislumbrar uma luz no fim do túnel.

“O que vier a ser definido – como eu disse a gente vai começar essa jornada agora – com certeza quanto melhor tiver a Dataprev, prestando um serviço de mais qualidade, melhor será esse processo que a gente vai passar. E obviamente com oportunidade pra todos”, disse aos funcionários a presidente da Dataprev.

A reunião de quinta passada serviu para isso: tentar elevar o moral, dar uma perspectiva de futuro para quem já não vê futuro. De forma a evitar que a demora no processo de tomada de decisão sobre a privatização – porque ainda vai demorar – interfira com o andamento dos trabalhos.

Essa diretoria conhece tanto a empresa, que nem parou para pensar na ofensa que acabara de cometer, já que em 45 anos de sua existência, nunca houve uma única vez que os funcionários tenham feito algum tipo de sabotagem contra ela ou contra o cidadão brasileiro.

Esses mesmos trabalhadores se não tivessem amor e dedicação ao que fazem, não teria faltado oportunidade para sabotar o governo, pois desde o final da gestão Dilma Rousseff trabalham com uma espada na cabeça. Sempre sendo lembrados que podem ser vendidos, fundidos com o Serpro ou até extintos.

Mesmo assim, nunca houve registro de má-fé da parte deles para com o Estado brasileiro, ou para com o cidadão a quem eles servem.

*Você tem todo o direito de tentar elevar o moral deles Christiane Edington. Porém isso não vai tirar deles o sentimento que bate agora na boca do estômago, de terem sido traídos.

De saberem que, mesmo sendo uma empresa enxuta, que gera receitas, não depende de aportes de capital do Tesouro e presta serviços ao cidadão, encontra-se misturada com outras numa lista de privatizações de “empresas ineficientes”.

**Ainda falarei mais do assunto. Outros diretores também merecem ter o seu momento de glória aqui nesta página.