A pane no servidor de nuvem da Oracle no TSE abre uma profunda discussão sobre o papel da iniciativa privada nos serviços prestados ao Estado, e como este se comporta diante das crises.
Primeiro, cai por terra a velha defesa do ex-secretário de privatizações, Salim Mattar, de que a iniciativa privada é capaz de prestar serviços bem melhores ao Estado do que este a si mesmo. Não foi o que vimos no episódio da Oracle.
Aliás, esta é a segunda vez que ouvimos falar de Oracle em episódios ruins para a imagem do Estado.
A primeira ocorreu quando o Serpro vacilou num suposta (nunca explicada pela empresa) atualização de banco de dados desta companhia, que acabou gerando dados incorretos da balança comercial brasileira, provocando danos à imagem do Brasil no mercado externo.
A diferença entre o público e o privado começa justamente aqui.
Ao tomar conhecimento que sua equipe falhou ou pelo menos foi negligente com cliente tão importante, a Oracle já deixou vazar que cortou a cabeça de dois executivos. Porque o dano à imagem da companhia foi enorme, com possíveis repercussões negativas futuras nos contratos que mantém com o Estado brasileiro. Se confirmada as demissões, a Oracle agiu rápido, embora isso resolva apenas parte do problema.
Mas fica então a seguinte questão: qual será o desdobramento deste episódio no TSE? A cúpula de TI do TSE também irá cair, seja agora em meio ao segundo turno da eleição municipal ou depois quando acabar a apuração?
Pelo que já vi nos três poderes da República nada ocorrerá. Espero estar errado desta vez, mas no caso do Serpro, por exemplo, apesar do rombo nas contas da balança comercial brasileira, ninguém da direção de Tecnologia da estatal perdeu a cabeça. Nem o presidente da empresa, que acabou premiado depois com um cargo de Secretário de Governo Digital.
Mesmo caso do STJ, em que até agora ninguém foi responsabilizado pelo problema ocorrido recentemente.
Talvez este seja o maior problema do Estado brasileiro: ele sempre dá um jeito de proteger os seus.