Desde cedo acompanho o noticiário sobre o vazamento de informações pelo sistema informatizado do Inep, que acabou expondo dados pessoais de 12 milhões de estudantes candidatos ao Enem – Exame Nacional do Ensino Médio.
No início cheguei a pensar que o Enem estava comprometido. Mas está mesmo? Toda essa confusão levantada pelo Estadão merece ares de crise?
Sério. Falar de vazamento de dados pessoais como, “nome completo, CPF, carteira de identidade, número de inscrição do Enem”, deve ser alguma piada neste país. O que mais se vende aqui são cadastros desse gênero. E normalmente quem os compra são as empresas de telemarketing.
Aliás, se você quer se chatear é só fornecer seus dados pessoais para um supermercado, uma loja e aguardar. Em breve você receberá telefonemas de gente querendo que você assine algum serviço ou adquira algum cartão de crédito, por exemplo.
E não adianta você dizer numa loja: “Eu não quero que meus dados sejam usados por terceiros”. Você irá conferir que seus dados foram vendidos para terceiros.
Daí é que embora aprove, considero totalmente inútil o consumidor ganhar o direito de pedir para que seu número não conste numa lista telefônica, para que seja impedido de ser usado por uma empresa de telemarketing. Fatalmente este mesmo consumidor acabará quebrando o seu sigilo quando preencher algum cadastro no comércio.
Expor os dados de alunos na Internet é um incômodo sim. Não estou atenuando o ocorrido. O Inep se mostrou incompetente neste caso.
Mas daí embarcar na aventura da repórter da TV Globo, ou acompanhar o raciocínio do Estadão, de que isso pode comprometer de vez o Enem, já que é o segundo caso em que “dados sigilosos” vazam nesse exame, só sendo completamente neurótico, ou irresponsável.
Até porque, da primeira vez o que ocorreu com o Enem foi roubo de provas impressas e não dados armazenados num banco de dados. Não dá para confundir um bandido que entrou numa gráfica e roubou provas, com uma instituição que irresponsavelmente deixou um link de acesso aos dados cadastrais de alunos livre para pesquisar na Internet.
Assim mesmo, quantos sabiam disso antes do Estadão deflagrar esse “escândalo”? Já sei de antemão que 12 milhões de alunos não sabiam, já que não se manifestaram antes da matéria ser publicada por esse jornal. E aposto com quem quiser: O repórter do Estadão só teve acesso aos dados, porque recebeu de alguém uma dica para chegar lá. Com que interesse não sei. Mas certamente não foi o de corrigir essa falha de sistema.
Volto a repetir: Não estou buscando atenuante para o que ocorreu. Só estou dando certo equilíbrio nessa discussão do suposto “escândalo” que ocorreu com o Inep, ou contra o Enem.
* Ninguém precisa ser um especialista para entender como esse exame vem mexendo com certos interesses, desde que foi instituído pelo MEC.