*Por Melissa Angelini – Levar uma empresa ao mercado público por meio de uma Oferta Pública Inicial (IPO) é uma empreitada complexa, desafiadora e empolgante. E o roadshow surge como o elemento crucial para garantir o êxito dessa jornada, já que é o momento em que a narrativa ganha vida.
O roadshow é um dos processos mais importantes da operação, uma série de apresentações destinadas a potenciais investidores, delineando a trajetória de crescimento da empresa e seus potenciais de crescimento futuro. Sua função é encantar e atrair o interesse dos investidores, tornando-se um fator decisivo para o sucesso do IPO.
Para construir um roadshow eficaz, é imperativo direcionar diversos elementos críticos, destacando-se a criação de uma tese de investimento robusta – um dos pilares fundamentais desse processo.
Antes de nos aprofundarmos na construção do roadshow, é essencial entender as fases cruciais que o antecedem. Conhecer profundamente o próprio negócio, analisar o histórico financeiro e estudar o mercado e a concorrência são os primeiros passos nesse enredo financeiro.
Destacar os pontos fortes da empresa não é apenas uma formalidade; é a oportunidade de mostrar como a empresa está preparada para um crescimento sólido e mantém uma base leal de clientes. Equilibrando essa narrativa, a empresa também precisa ser transparente sobre os riscos e desafios, proporcionando uma visão realista e autêntica.
Ter e apresentar uma equipe de gestão experiente também é essencial, já que os investidores não investem somente na empresa, mas também em sua equipe, que serão os responsáveis por executar a tese de investimento.
Num último enfoque: seja transparente – não tenha medo de também mostrar os desafios que a empresa enfrenta e como fazem para superá-los. Isso faz com que o diálogo seja crível e que o público esteja mais engajado para aprender mais sobre a empresa. Além de transmitir clareza e conhecimento sobre o segmento.
No centro do roadshow está a criação de uma tese de investimento, que vai além dos números. A tese de investimento é a fundação sobre a qual se constrói a narrativa do IPO, que deve ser clara, concisa e convincente.
Entre os pontos-chave a serem considerados está a análise SWOT, que destaca as forças, fraquezas, oportunidades e ameaças. Isso não apenas demonstra uma compreensão profunda do ambiente de negócios, mas também revela como a empresa pretende enfrentar seus desafios e capitalizar suas vantagens.
A verdadeira magia acontece com o equity story, uma narrativa que vai além dos gráficos e dados. Contar a história da empresa, desde sua fundação até os momentos mais significativos, é como criar um enredo envolvente, em que cada capítulo contribui para a construção do clímax do IPO.
Não é apenas um olhar para trás, mas um impulso para o futuro. E, para isso, também é importante que os speakers estejam preparados para contar a história, muitas vezes em um curto espaço de tempo, como um “elevator pitch”, e que o investidor saia com alguns pontos chaves sobre a empresa e por quê investir nela.
Esteja preparado para responder a perguntas difíceis dos investidores durante o roadshow e adapte sua apresentação conforme necessário para atender às preocupações específicas dos investidores individuais. É nesse momento em que se começa a construir um relacionamento de confiança com os seus potenciais investidores. Por isso, ser claro, conciso e transparente sobre os desafios é chave para uma relação de confiança.
O que não fazer no roadshow é igualmente importante, como o excesso de jargão técnico. Evite excesso de jargão técnico que possa alienar investidores não familiarizados com o setor. Mantenha a linguagem acessível.
Além disso, seja honesto sobre os desafios e as áreas de melhoria da empresa. A premissa de “under promise, over deliver” continua sendo verdadeira. Muitas empresas focam somente na abertura de capital, em buscar o valor mais alto para as suas ações e em obter o maior valuation possível, mas acabam esquecendo do dia seguinte após a abertura de capital.
E não se concentre exclusivamente em números. Contextualize os dados financeiros dentro da história da empresa e destaque como eles apoiam a visão de longo prazo. Ao construir uma tese de investimento sólida juntamente com uma narrativa envolvente, a empresa estará bem posicionada para criar uma apresentação de roadshow atraente. Focar em clareza, autenticidade e engajamento com o público-alvo é fundamental para conquistar o interesse e a confiança dos investidores, pavimentando o caminho para um IPO bem-sucedido.
Uma tese de investimento sólida não é apenas a chave para um IPO bem-sucedido, mas para uma história que resiste ao teste do tempo e vai se aprimorando com a evolução e crescimento da companhia.
O IPO não é o fim, mas o começo de uma nova fase. Ir além da abertura de capital, executar as promessas feitas durante o IPO e gerar valor aos acionistas são compromissos contínuos, que exigem consciência, sustentabilidade e boas práticas de governança corporativa.
*Melissa Angelini é diretora de Relações com Investidores e membro do conselho de administração do IBRI