Esta semana recebi por diversas fontes a notícia de que o Serpro tirou a função de chefia de um funcionário e abriu processo porque ele gravou um vídeo mostrando o acampamento bolsonarista no QG do Exército. E no título das reportagens vinha a informação de que ele teria contato com o “elo golpista” do movimento.
Não vi todos os vídeos, mas no que pude ver algumas questões não ficaram claras para mim: 1 – O funcionário estava gravando vídeos durante o quebra-quebra dos palácios ou foi filmado quebrando patrimônio público? 2 – O suposto “elo com golpistas” está materializado em algum vídeo ou troca de mensagens em grupos que sugerem adesão dele e disposição para agir numa tentativa de um golpe de Estado? 3 – O funcionário estava em horário de trabalho participando desses atos? 4 – O funcionário de alguma forma sabotou os sistemas da empresa, cometeu algum ato dentro do Serpro que visava impedir a estatal de prestar os serviços ao novo governo?
Sinceramente não vi nas reportagens nenhuma resposta às perguntas acima, o que me leva à mais uma indagação sobre o caso: 5 – Por que o referido funcionário perdeu uma “função de confiança” no Serpro? Em que ponto da atividade política dele ou da vida particular foi ferida alguma conduta do Serpro?
Prefiro aguardar as tais investigações para saber se o funcionário é ou não um “golpista”. Até o momento faltam provas para tal, mas sobram ocasiões em que o sujeito mostrou ser um tolo, um analfabeto político.
Eu não sou santo, provavelmente alguém ainda poderá copiar alguma postagem minha vinculando determinada pessoa ao bolsonarismo de forma explícita. Mas dificilmente terão cópia tratando esta mesma pessoa como “golpista”, se não houver provas contundentes dessa atividade.
Eu só estou ponderando que ser bolsonarista não significa necessariamente ser golpista. Muito menos acredito que todos que votaram em Bolsonaro comungam 100% com as ideias dele. Acredito que houve mais uma vez um voto de protesto de uma grande fatia do eleitorado que não aceita votar no PT em hipótese nenhuma.
Razão também para não qualificar empresas por terem fornecido ao governo anterior. Não estavam lá por militância política.
Voltando ao caso do funcionário do Serpro, perder o cargo de confiança provavelmente ele já perderia em breve, tão logo o governo defina a composição da nova diretoria da empresa, coisa que já está atrasada há um mês, dada a importância da estatal para a Administração Pública Federal. Então a decisão me parece chover no molhado.
Se isso de alguma forma me chamasse a atenção para escrever uma matéria, começaria estranhando o fato da atual direção, que ainda é “bolsonarista”, ter tomado tal atitude. Sem que publicamente nada tenha sido revelado sobre o comportamento dele dentro da empresa. Quanto mais abrir algum procedimento administrativo contra ele, se for pelo fato de ter filmado sua passagem num acampamento de apoiadores de Bolsonaro.
Essa notícia só corrobora com o pensamento que tenho de que o país está doente e entrando em estágio terminal. Nós estamos há exatos seis anos travando nas redes sociais e no dia a dia do país uma batalha insana por questões ideológicas. E o pior é que a tática do “cancelamento” que ocorria nas redes sociais, agora está sendo transferida para o mundo real, com notórios casos de “cancelamento sumário” de pessoas em cargos da Administração Pública por questões ideológicas numa fase de transição de governos.
Eu me pergunto: como é possível julgar ou avaliar o trabalho de um funcionário público com base no que ele pensa de determinado partido ou dos políticos?
Desde o início deste governo tenho recebido “denúncias” de que “bolsonaristas continuam tentando se manter em cargos no governo Lula”. Já recebi coisas do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, do Serpro, Dataprev, Telebras, BB Tecnologia, entre outras também vindas dos ministérios. Mas o engraçado é que nesse tiroteio político já começo a receber, também, denúncias de “petistas” que estão entrando para o novo governo, supostamente por serem amigos de algum prócer do PT.
Até por ser “amigo de Janja”, pasmem, já recebi. Não pretendo entrar nesse mérito; já achei um absurdo a Folha de S.Paulo ter estampado num título que uma Advogada com qualificações profissionais e acadêmicas acima da média, assumiu uma assessoria no BNDES por ser a “mulher do Chico” (Buarque).
Meu critério para qualquer caso será o profissional. Se o sujeito tem ou não as qualificações necessárias para ocupar o cargo, que conduta tem ou teve no mercado de informática ou em governos anteriores.
Recentemente fui até deturpado em comentários na rede, pelo fato de ter dito que o PT resgatou do período cretáceo da informática um sujeito para ocupar a direção do Datasus. Não estava me referindo ao fato dele ser velho, pois velho eu também sou.
Apenas questionei se ele está ou não antenado com a tecnologia em 2023 e ainda o que vem pela frente. E, no meu entender, não está. Não o vi nos últimos anos em nenhum fórum relevante tratando de temas importantes do setor, portanto, para mim essa pessoa está desatualizada. E terá dificuldades para encontrar o melhor caminho tecnológico para o órgão. Chegaram até questionar na postagem que ele “não redigirá linhas de código no cargo que ocupará”(?).
Ainda bem, né?
É preciso acabar com esse clima de perseguição política travestida de interesses pessoais e profissionais, que não leva à nada. Está na hora de se pensar nos rumos que as TICs terão neste governo e seus impactos futuros, independentemente se o sujeito dessa ação for do PT, Bolsonarista, Cirista, Marinista, Teberista; seja que raio for.
Aqui a regra que valerá (pelo menos eu venho tentando cumpri-la) é o do critério técnico, da capacidade de inovar ou se o sujeito está apenas enxugando gelo, com possibilidade de resultados ruins no futuro.
*Não me peçam para julgar um profissional pelo voto que ele deu na última eleição. A não ser que o sujeito declaradamente acredite que a Terra é plana.