Sério, não sou especialista em telecomunicações como muitos colegas jornalistas, mas tem coisas que não consigo compreender direito e adoraria debater com alguém habilitado.
Vi uma reportagem no Convergência Digital sobre antecipação das mudanças nos contratos de concessão das teles fixas, no qual o título fraz um alerta: “Para teles, telefone fixo não tem futuro“.
Diante de vários cenários traçados pelas teles, numa consulta pública que a Anatel já colocou para o debate com os usuários e empresas, uma delas chama a atenção: As teles acusam queda no uso dos Telefones Públicos e suas receitas não são mais atraentes, propondo um enxugamento dos TUPs em serviço (como são chamados os orelhões) na proporção de 3 para 1.
Nas conversas que já ouvi no setor e na Anatel, uma das razões para a telefonia fixa encolher seria o avanço descomunal do celular na vida das pessoas. Por consequência, teria sido registrada uma queda significativa no uso dos orelhões, que justificaria agora uma revisão do seu quantitativo “instalado” nas cidades.
Suposta alegação para isso: as pessoas, mesmo que disponham de um pré-pago, não estariam mais buscando os orelhões para se comunicar com as outras. Por conveniência, ligam à cobrar e aguardam o retorno em seus pré-pagos, que não dispõem de créditos para ligar e falar, porque é caro, mas ainda recebem ligações. Faz sentido, em parte, mas seria essa a principal razão?
Até hoje não vi nenhuma empresa de telefonia fixa me provar, em números, que os celulares pré-pagos só estão dando lucro para as operadoras móveis, porque houve um aumento significativo de compras de cartões pelos usuários e que estes abandonaram o velho hábito de ligar por orelhão, ou cobrar, para esperar pelo retorno da chamada que fizeram.
*Convém lembrar que o retorno, se for por telefone fixo, o valor da conta ainda fica mais salgado. E isso ocorre geralmente entre a massa trabalhadora que liga para a empresa, para o patrão.
Da mesma forma, não vi nenhum número significativo das teles fixas, comprovando que houve queda nas chamadas à cobrar, que seriam justamente as ligações feitas por pessoas que dispõem de um pré-pago, mas não de crédito para realizar as ligações.
Se não há lucro nas ligações à cobrar para as teles fixas e nem tampopuco com o retorno feito para esses pré-pagos e, ainda, se não houve aumento de faturamento nas móveis porque as pessoas passaram a comprar mais cartões pré-pagos para poder falar, então quem está ganhando dinheiro, que possa ser a razão para não justificar a presença dos orelhões?
Alguém precisa ser mais claro e explicar essa questão. Nossa planta de celulares composta em mais de 80% de celulares pré-pagos, seria capaz de acabar com o uso de orelhões pela população de baixa renda, que não dispõe de dinheiro para ficar comprando créditos? Se assim é, então qual a forma de comunicação que tem sido adotada por esse segmento, já que não há indícios de aumento signficativo de ligações à cobrar, nem tão pouco de retorno de ligações para celulares pré-pagos?
Dizer que o orelhão não atrai mais usuários pode até ser verdade, mas carece de comprovação.
No momento, estou mais inclinado a acreditar que a população não procura mais os orelhões para se comunicar, porque simplesmente não os acha e em funcionamento. Basta dar uma conferida pelas grandes cidades brasileiras.
Muitos aparelhos não funcionam e não adianta reclamar porque a fiscalização da Anatel é precária. Não tem sequer números sobre isso. Os que têm são fornecidos pelas empresas e a agência os aceita, sem questionar.
Essa consulta pública diante desses argumentos, me parece mais a agência reguladora tentando acabar com um problema que ela mesmo criou e depois não foi capaz de fiscalizar.