Por Jeovani Salomão* – Eu sinto falta dos meus amigos. Com alguns grupos tinha rotinas semanais, fora aqueles que via mais costumeiramente em função das atividades empresariais. Com outros costumava almoçar de tempos e tempos, sem nenhuma necessidade de ter um assunto particular para falar. Outros, ainda, frequentavam minha casa para degustar um bom vinho, assim como eu fazia o mesmo e os visitava em suas casas. Muitas vezes, comentamos entre nós que nunca precisaríamos de psicólogos, uma vez que já fazíamos terapia em grupo.
Nessa pandemia, marcada pelo isolamento social, percebi que com muitos desses queridos tenho falado exclusivamente pelo WhatsApp e pelas redes sociais. Ninguém usa mais telefone, não é? Estamos vivendo muito mais de posts, memes, likes, compartilhamentos. Preferia o tempo de abraços, risadas altas e aquela falação de uma quantidade extraordinária de bobagens que apenas os amigos conseguem produzir quando estão juntos.
Mas a situação exige precaução para vencer a pandemia. Cada um, dentro das suas possibilidades, deve adotar as medidas necessárias para evitar a maior propagação do vírus, com especial cuidado com o próximo, principalmente, aqueles em grupo de risco. Sendo assim, precisamos encarar as novas dinâmicas sociais.
No decorrer da semana, tive uma experiência extremamente positiva e de alguma forma surpreendente. O contexto foi o lançamento de uma parceria da minha empresa com uma multinacional de software. Fizemos um Happy Hour virtual com vários clientes, que se iniciou com breves apresentações institucionais, seguidas de explicações sobre o processo de fabricação de cervejas, transmitidas diretamente de uma cervejaria artesanal de alto nível. Após compreender melhor as diferenças entre as cervejas e como elas são feitas, passamos para parte prática, quando dois mestres cervejeiros nos guiaram na degustação de quatro tipos diferentes, cada uma com um copo em formato específico e com acompanhamentos apropriados. Uma delícia. Nunca imaginei, por exemplo, que fosse tomar uma “gelada” com trufa ou com ameixa seca e achar bom.
Em relação a logística do evento, após a confirmação dos convidados, conseguimos enviar, para a casa de cada um, os kits completos com cervejas, copos, aperitivos e um abridor. No dia da confraternização, a integração foi agradável e o evento transcorreu com fluidez. Estava previsto para durar 1 hora e meia e durou 2 horas e meia. O tempo passou da mesma forma que passa quando estou com meus amigos. Penso que foi assim para cada um dos “presentes”.
Além de estarmos cada um na sua casa, o que permitiu a interação de alguns com a família, há outros fatores bem relevantes e interessantes no lançamento. A pessoa que cuidou do nosso marketing está em Lisboa. Quem fez a parte de marketing da multinacional está em São Paulo. A responsável por canais deles, no Rio, o nosso em Brasília. Parte dos clientes em Goiânia, outros em Brasília. Um dos mestres cervejeiros, Pedro Henrique, carinhosamente conhecido como Jack, sócio da Gonts, é também nosso colaborador na Memora há mais de 10 anos.
Fronteiras estão se rompendo. Físicas, por óbvio, mas também culturais. Foi possível obter uma diversão de qualidade, em um momento organizado a muitas mãos, por pessoas em locais diferentes, trabalhando com sinergia, ao mesmo tempo que se inaugurava uma parceria de sucesso, com vastas possibilidades. Paralelamente, prestigiamos o empreendedorismo de um colaborador competente, dedicado e comprometido com a empresa. A propósito, outros colaboradores possuem negócios próprios e ninguém precisa esconder isso no ambiente organizacional, ao contrário, se pudermos ajudar, iremos fazê-lo.
Se as interações pessoais diminuíram, as virtuais estão aumentando exponencialmente e não se limitam ao ciclo de relacionamento previamente estabelecido. Há espaço para buscar novos amigos, novos mentores, aficionados do seu hobby preferido, relacionamentos de toda ordem.
Pode ser que esse texto encontre você em isolamento, eventualmente com vontade de interagir com seus amigos ou familiares, quem sabe com uma leve pontada de nostalgia ou um tiquinho de depressão. Espero que perceba as inéditas opções que estão surgindo e que possa usufruir delas. Convide uns amigos para uma festa virtual, cada um em sua casa, com sua bebida preferida, coloque uma música comum e descubra que é possível se divertir mesmo que de longe. Ou quem sabe você decida aprender a desenhar, tocar um instrumento, fazer dobraduras em papel, ou ainda uma pós-graduação. Não importa qual sua opção, importa apenas que não fico imobilizado pela situação. Mexa-se!
Simultaneamente, vamos torcendo juntos, sendo solidários com quem precisa e trabalhando, no sentido mais amplo da palavra, para que consigamos superar esse grande desafio trazido pela COVID-19.
*Jeovani Salomão é empresário do setor de TICs e ex-presidente do Sinfor e da Assespro Nacional.