NEO/UFRGS propõe modelo de governança e viabilidade econômica para implantar Data Spaces no Brasil

O Núcleo de Engenharia Organizacional (NEO-UFRGS) apresentou ontem (23), durante o webinar promovido pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) sobre DataSpaces, os resultados de um estudo inédito sobre a implementação desse no setor produtivo brasileiro. O trabalho foi conduzido sob a coordenação do professor Alejandro G. Frank, diretor do NEO, no âmbito do programa “Open Industry”, iniciativa conjunta com a ABINC e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

De acordo com Alejandro Frank, o desafio proposto à equipe do NEO envolveu três etapas principais: 1 – escolher o setor mais propício para receber um projeto-piloto de Data Space, 2 – propor um modelo de governança capaz de articular diferentes atores — públicos e privados — e 3 – elaborar um business case que demonstrasse a viabilidade técnica e econômica da iniciativa no Brasil.

“Nosso primeiro passo foi identificar onde seria mais eficiente começar. Depois, discutimos como estruturar a governança, inspirando-nos em modelos europeus como o GAIA-X, que hoje coordena cerca de 200 Data Spaces na Europa. Por fim, produzimos um estudo detalhado sobre custos, atores e estrutura mínima necessária para implementar um Data Space nacional”, explicou.

O resultado é um documento técnico que define o passo a passo para criação de um Data Space brasileiro, listando fornecedores de tecnologia, responsabilidades institucionais e estimativas de investimento.

Governança em múltiplos níveis

O estudo propõe uma governança distribuída em três níveis — macro, meso e micro.

  • No nível macro, estariam as instâncias normativas e regulatórias, responsáveis por alinhar o projeto à futura Política Nacional de Economia de Dados.
  • No nível meso, atuariam instituições intermediárias, como associações setoriais e agências públicas.
  • No nível micro, ficariam os operadores técnicos e empresas que conduziriam a execução prática dos Data Spaces.

Segundo o diretor do NEO, essa estrutura permitirá coordenação e confiança entre os participantes. “Data Spaces exigem regras claras e coordenação entre atores. A governança precisa garantir soberania e descentralização dos dados, mas também promover colaboração e inovação conjunta”, afirmou.

Cooperação competitiva

O diretor do NEO também destacou que o modelo de DataSpaces estimula um novo tipo de interação entre empresas, em que concorrentes podem cooperar sem abrir mão da soberania sobre seus dados. Ele citou exemplos da Europa em setores como sustentabilidade e pegada de carbono, onde o compartilhamento de dados tem gerado soluções conjuntas de alto impacto.

“Podemos competir no mercado, mas colaborar na resolução de desafios comuns, como o alto custo de manutenção de equipamentos. Compartilhar dados sob regras seguras permite desenvolver algoritmos de previsão de falhas e novas soluções para todo o setor”, observou.

Alejandro Frank definiu o conceito como uma “coopetição digital” — um ambiente em que a colaboração entre competidores acelera a inovação sem comprometer a privacidade ou o sigilo industrial.

Rumo a uma economia de dados soberana

O estudo entregue à ABDI representa um passo estratégico para consolidar uma economia de dados soberana e colaborativa no país. A publicação completa será disponibilizada no site da agência e deverá servir de base para futuros projetos-piloto de DataSpaces no setor industrial brasileiro.

“Nosso objetivo é oferecer uma visão prática, aplicável e replicável. O Brasil tem potencial para liderar esse movimento na América Latina — e isso começa com um modelo de governança sólido e uma cultura de compartilhamento responsável”, concluiu Alejandro Frank.