Por Jeovani Salomão* – Houve um tempo no qual eu acreditava que meu único futuro profissional seria seguir carreira técnica em informática. Sim, as ciências da computação ou a tecnologia da informação, como chamamos a área nas terminologias atuais, eram denominadas de informática, termo, a propósito, muito melhor, segundo minha interpretação.
Naquele momento do tempo, havia apenas duas vertentes: desenvolvimento e suporte. A primeira, estava relacionada a qualquer atividade de criação de sistemas. A segunda, era conectada com as atribuições de fazer com que os computadores funcionassem adequadamente. Hoje, existe uma infinidade de possibilidades, motivo pelo qual os apaixonados pela área precisam de maior conhecimento e aprofundamento antes de escolher seu melhor encarreiramento.
Minha opção foi bastante simples, sempre me identifiquei com a construção de algoritmos, então o caminho de criar aplicações foi natural. Relevante, também, dizer que havia uma característica que sempre me afastou do suporte. Naquele momento, várias pessoas começavam a ter seus equipamentos em casa e, em decorrência, surgiam demandas de conhecidos para ajudar com problemas técnicos dos seus aparatos. Isso é um fardo para os optantes pela área de suporte e continua a ocorrer com frequência nos dias atuais. Imagino que você, leitor, ou conhece bastante de tecnologia ou já ligou para um amigo, inclusive em um final de semana, para pedir ajuda.
Fui tão radical em minha escolha, a ponto de não saber fazer qualquer coisa em relação a redes, a sistemas operacionais ou a qualquer matéria correlata. Em verdade, mal consigo configurar minha TV e fazer que os aparelhos domésticos se conectem. Meus filhos duvidam que um dia eu tenha tido alguma habilidade na área; olham para mim como um leigo absoluto, mesmo quando conto da minha participação em alguns aplicativos complexos.
A transição para a área de negócios começou no início da década de 90, quando eu tive a oportunidade de participar de um projeto de marketing de rede, ou marketing multinível. A partir daí, percebi que outras opções eram possíveis. Livros e palestras sobre desenvolvimento pessoal, prosperidade, vendas, relacionamentos e empreendedorismo foram incorporados em minha rotina. Descobri que as carreiras executivas não dependiam de um dom de nascença, mas sim de dedicação, aprendizado, propósito, objetivo e persistência.
Em um dos eventos dos quais participei, o palestrante produziu uma dinâmica interessante. Ele fazia gestos com os braços e as mãos, enquanto narrava seus próprios movimentos e nós, da audiência, repetíamos as ações. “Mão na cabeça”, “Braço ao lado do corpo”, “Mãos para cima” e assim por diante. Após uma meia dúzia de instruções, o cidadão colocou a mão na testa, no entanto, verbalizou algo diferente, como, “Mão nos joelhos”. A plateia inteira colocou as mãos na testa. Ele finalizou: “Nossas ações falam tão alto, que os outros não escutam o que falamos”.
Na quarta-feira, 10 de março, o maior datacenter da França pegou fogo. O incêndio destruiu completamente um prédio de 5 andares, afetou outro parcialmente e duas plantas não foram danificadas. Segundo notícias da imprensa, mais de 3 milhões de sites saíram do ar, inclusive de bancos, comércios eletrônicos e webmails. A empresa, dona do empreendimento, diz que parte dos serviços serão reestabelecidos dia 15 e a outra parte dia 22. Um absurdo completo!
Quando nós, clientes, pagamos para ter serviços em nuvem, contamos que os provedores tenham um eficiente sistema de redundância, backup e disaster recovery. Se um dos ambientes sofre qualquer acidente, temos a expectativa que outros assumam suas funções sem que isso provoque a descontinuidade dos nossos negócios. Ainda mais ao se considerar a aceleração de digitalização de serviços provocados pela pandemia. Entretanto, como já sabia o mencionado palestrante do século passado, é muito mais fácil falar do que fazer.
Enquanto país, precisamos rapidamente tomar consciência da competição global e dos discursos utilizados pelos nossos competidores. No episódio das queimadas da Amazônia e no próprio combate à covid, vários atores internacionais aparecem para criticar o Brasil. Não tenho como objetivo neste texto fazer uma defesa do posicionamento do governo em relação aos temas, o qual, por sinal, foi bastante infeliz. Alerto, apenas, que boa parte das falas internacionais possuem como objetivo, tão somente, os próprios interesses.
Assim como a OVH, dona dos datacenters, os governos mundo afora são extremamente efetivos para criticar, pressionar e colocar a si próprios em condição de superioridade. Por outro lado, nós, brasileiros, somos péssimos em autoestima e aceitamos os pronunciamentos externos como um mantra produzido por civilizações mais evoluídas. A verdade nua e crua é que, em geral, estão apenas fazendo uma política de competição, na defesa do próprio país.
Quem sabe seja a hora do Brasil, enquanto nação, frequentar aquelas palestras sobre empreendedorismo, marketing e até autoestima das quais participei nos idos de 90.
*Jeovani Salomão é empresário do setor de TICs e ex-presidente do Sinfor e da Assespro Nacional.