É o que estimaria o BNDES, segundo relato de uma reunião de governo que vazou no meio sindical. A transcrição de uma reunião que agentes do governo tiveram com técnicos do banco também já circula nos principais grupos de discussão do Serpro e da Dataprev.
Pelo relato, o BNDES deixou claro que a modelagem para o processo de venda das estatais seguirá rígidos critérios de análise do banco, levando e conta diversos fatores. E que no caso do Serpro, por exemplo, o banco vê a empresa como um ativo bem mais “complexo” que os Correios.
E realmente o BNDES está certo, se pensa assim. Pois irá lidar pela primeira vez com um “ativo” que em nenhum canto do mundo se chegou a bom termo: qual o valor dos bancos de dados dos cidadãos brasileiros e o que poderia ser repassado para o comprador à luz da Lei Geral de Proteção de Dados? “Não há espaço para leviandade”, teria dito o interlocutor do banco durante a reunião sobre a futura avaliação do Serpro e da Dataprev.
E o prazo estimado para apresentação dos resultados do estudo seria daqui a dois anos. Neste ponto o mesmo interlocutor deixou claro que nada será feito da parte do BNDES de forma “precipitada” e que o banco “não cederá a pressões para encurtar caminhos”.
Tais declarações, a meu ver, deixam claro aquilo que já disse: o processo de venda das estatais, se chegar a ocorrer – pois o próprio governo pode ser ‘privatizado’ antes – não será para agora, ainda vai demorar.
O que não impediria uma eventual abertura de capital das empresas e outras ações previstas na caixinha de maldades dessa turma: enxugamento de regionais, demissões através de PDV (Dataprev está em curso).
O governo sabe, e não é burro, que não tem como evitar o Legislativo. Sem autorização do Congresso para vender estatais, não rola.
Continuo com a impressão de que estão apenas “cozinhando o galo”, ganhando tempo para evitar que Salim Mattar – um dos únicos defensores da venda das empresas – saia do governo atirando, dizendo que ele não vai cumprir aquilo que prometeu em campanha.
O que seria um terremoto para o governo, pois a única área até agora a não ter crise política ou divergência aberta em redes sociais, é justamente a área do Paulo Guedes. E, se tiver, o “Deus Mercado” irá acusar o golpe e repercutir mal, com provável fuga de investidores interessados no negócio, já que ninguém põe dinheiro num projeto furado.
De resto o papo foi interessante para o Serpro cair na real. A empresa tem problemas com clientes e eles já registraram isso, mas no geral consideram importante o papel desempenhado pelas estatais.
E foi discutido ainda aquilo que venho dizendo há tempos. Quem comprar vai querer continuar com os contratos do governo por um prazo muito maior que o previsto atualmente. Na reunião tocou-se num prazo de 10 anos.
A experiência que tenho com as privatizações das teles me diz que será de 20 anos. Os dez sugeridos de prazo é pouco, mesmo com uma renovação de mais dez anos. A turma que entrar vai querer recuperar o investimento vendendo serviços ao governo por muito tempo. Dez anos não fazem nem cócegas.
*Agora é ficar de olho no BNDES. E lá eu não tenho nenhuma viva alma disposta a dar umas “vazadinhas básicas”, de vez em quando. Inferno! 🙁