Por Jeovani Salomão* – Neste momento complexo, no qual a pandemia assola nossa país de forma implacável, encontramo-nos entre a esperança da aceleração da vacina e a tristeza do aumento de óbitos. Pela teoria da “imunidade de rebanho”, e considerando as taxas de transmissão médias da covid, a propagação do vírus será contida quando tivermos vacinado 60% da população. Esta é uma estimativa baseada em vários fatores ainda desconhecidos, motivo pelo qual, o patamar preciso somente será conhecido tempos depois.
De qualquer forma, considerando um ritmo de 1 milhão de imunizados por dia, uma população de 210 milhões e pouco mais de 18 milhões vacinados, estamos falando em, de forma otimista, no mínimo, 4 meses de convívio intenso com a doença. Observe-se que para fazer uma conta exata é preciso considerar a segunda dose, ou seja, quando se fala na quantidade por dia, aqueles que tomam pela segunda vez não são novos imunizados e, portanto, não ampliam a quantidade de vacinados.
Além dos cuidados obrigatórios, os quais alguns ainda insistem em não cumprir, o melhor que podemos fazer é praticar atos de solidariedade para com o próximo. Cada ação individual, seja ela qual for, vale muito e é extremamente bem-vinda. Ações coletivas, em particular empresariais, possuem um peso ainda maior, pela maior capacidade de alcance.
Felizmente, muitas empresas já compreenderam sua importância social e outras estão trilhando o mesmo caminho. No nosso caso particular, decidimos dobrar, este ano, o valor de doações que fizemos ano passado e faremos o mesmo em 2022.
Um dos casos que tenho maior orgulho é o do Laboratório Sabin. Suas fundadoras, Janete Vaz e Sandra Costa são incansáveis quando o assunto é fazer o bem ao próximo. O crescimento da empresa já coloca a marca em todas as regiões do Brasil com faturamento global superior a R$ 1 bilhão.
Na relação de projetos sociais apoiados por minha empresa, dois deles tem a Janete como precursora em Brasília: Junior Achievement e Mulheres do Brasil, nos quais contribuímos ou financeiramente ou com serviços voluntários. Conheci a empresária quando eu era presidente do SINFOR e, desde então, tenho o privilégio de compartilhar momentos de sua companhia. Mais recentemente, por força dos projetos mencionados, minha esposa, Luciana, tem tido convívio mais próximo com ela.
Por estas razões, acompanho o quanto posso os movimentos do laboratório. Recentemente, um dos executivos do grupo, Edgar Moreira, meu contato no LinkedIn, mas que não conheço pessoalmente, fez um post intrigante, embora não relacionado com as ações sociais. Mencionou um link, reproduzido aqui (https://lnkd.in/gpXw2-v), no qual se convida o visitante a tentar reconhecer a diferença entre humanos e IA.
Entrei no desafio que apresentou 21 produções – fotos, textos, composições musicais e pinturas – e fui desafiado a optar, caso a caso, entre criação humana ou IA. Acertei 9 vezes e errei 12. Passei para minha família que obteve desempenho melhor, acertaram entre 12 e 15 questões, mas todos eles alegaram que em algumas simplesmente “chutaram”. O conjunto apresentado não pode ser equiparado ao Teste de Turing, mas ainda assim, já criou situações em que o autor da obra não pode ser identificado com alto grau de certeza.
Para os leigos, o mencionado teste, criado por Alan Turing, tem como objetivo diferenciar um humano de uma máquina. A premissa é que se você conversar com um interlocutor por 5 minutos será capaz de distinguir um computador de um indivíduo. Um chatbot, denominado Eugene Goostman, conseguiu a façanha, mas sob condições que foram consideradas como trapaça. Foi dito que se tratava de uma criança Ucraniana de 13 anos que não dominava completamente o idioma e, portanto, a maioria não considera que o êxito seja válido. Existem controvérsias em casos similares e já há quem diga que o teste é obsoleto. O mais significativo, entretanto, é que os avanços são perceptíveis.
Em artigos anteriores, compartilhei uma previsão da Singularity University na qual se afirma que em 2038 não conseguiríamos distinguir a realidade virtual da nossa própria realidade. Emiti opinião que a predição era acelerada demais e que acreditava fosse ocorrer apenas anos depois, talvez em 2050, entretanto talvez 2038 não seja tão longe assim, a se considerar que a própria IA vai ajudar a desenvolver novos avanços da tecnologia.
Como o espectro da produção criativa da humanidade é bem amplo, variando da imbecilidade ao sublime, a depender do observador, uma obra produzida por IA dificilmente será reconhecida entre outras, já no nível atual de desempenho. Em uma interação continuada, entretanto, a história é diferente. Manter o comportamento humano não é tão simples quanto produzir uma peça isolada.
Nos próximos anos, além do aperfeiçoamento das técnicas em si, haverá maior integração entre a capacidade natural e a artificial na busca de melhores soluções para os assuntos cotidianos, corporativos e governamentais. Espero que as marcas da pandemia tenham sido profundas e tragam a compreensão que as decisões mais adequadas não são aquelas capazes de maximizar as condições individuais, mas sim as coletivas.
*Jeovani Salomão é empresário do setor de TICs e ex-presidente do Sinfor e da Assespro Nacional.