Por Jeovani Salomão* – Em um feito notável e inédito, a Marvel conseguiu produzir vinte e cinco filmes encadeados. De uma forma geral, cada um deles pode ser assistido individualmente, sem a necessidade do conhecimento da trama inteira. São filmes de qualidade isoladamente, mas o conjunto produz algo muito maior, principalmente, para aqueles que gostam de histórias de super-heróis. Eu assisti a todos, como em uma realização de um sonho de infância. Para muitos, assim como para mim, era inimaginável acreditar que nossas aventuras extraídas dos gibis, seriam transportadas para as telas com tamanha qualidade.
O vilão mais poderoso da saga, antagonista principal dos filmes finais, é o titã Thanos. Como acontece várias vezes na vida real, o dito cujo acredita que, na verdade, está fazendo o bem. Em sua percepção, o cosmos está superpopuloso e se não houver uma redução em seus habitantes, ocorrerá um colapso que levará ao caos e a desordem. Sendo assim, decide eliminar, de forma aleatória, metade dos seres vivos do universo. Para tanto, reúne instrumentos de poder, materializados em pedras místicas, denominadas Joias do Infinito.
Quando uma ameaça de tamanha magnitude resolve invadir a Terra, não é de se admirar que haja uma completa união para defesa planetária. Os interesses comuns de preservação, superam os mais individuais, sejam pessoais, de instituições ou de nações. Essa é uma vigorosa hipótese para que, no futuro, tenhamos um Governo Mundial. Uma ameaça superior à capacidade de qualquer país ou bloco de países pode aglutinar a humanidade. Ela pode ser ou não externa, de forma que, eventualmente, não precisaremos aguardar uma invasão alienígena.
Um governo global teria a possibilidade de afetar positivamente a sociedade humana, otimizando políticas e recursos, de forma a atender de maneira mais igualitária a comunidade, porém os desafios são enormes. Já podemos observar as dificuldades na atualidade, basta olhar para as organizações mundiais que já existem. Particularmente, no enfrentamento à pandemia causada pelo coronavírus, presenciamos uma Organização Mundial da Saúde – OMS pouco efetiva, confusa, falando demais e fazendo muito pouco, absorta em politicagem interna, privilegiando visões e posicionamentos que não necessariamente seriam os melhores para uma atuação adequada.
Em 2016, tive a honra e o privilégio, como presidente da ASSEPRO, de trazer para Brasília o World Congress of Information Technology – WCIT, evento que reuniu mais de dois mil participantes extremamente qualificados, com mais de trezentos estrangeiros, para ouvir um robusto conjunto de mais de cinquenta conferencistas, muitos deles de renome mundial. Ao final do evento, minha inspiração estava em alta. Não era para menos, tinha convivido, na condição de organizador do evento, com estrelas mundiais, das quais posso destacar:
– Dr. Vint Cerf – considerado um dos pais da Internet e vice-presidente global da Google
– Dr. William Magee – Fundador e Presidente da SmileOperation
– George Newstrom – Vice-presidente e principal executivo da Dell serviços
– Oren Gershtein – Fundador e presidente da Idealitty Roads de Israel
– Marie Lou Papazian – Diretora do projeto Turno, que usa TI no desenvolvimento de adolescentes – Armênia
– Santiago Guitierrez – Presidente da WITSA – México
– Som Mital – Ex-presidente da Nasscom – Índia.
Nesse ambiente repleto de estrelas, tive um insight que a Internet poderia provocar um Governo Mundial. Hoje, quatro anos depois, com a acentuada virtualização que tivemos, a ideia permanece viva. Quanto mais a sociedade estiver virtual, mais confusas ficam as questões de jurisdição sobre o armazenamento de dados, transações comerciais, tráfego nas redes, comportamentos inadequados.
Qual lei vigora quando alguém da Europa, utilizando-se de provedores orientais, com códigos malignos criados no Brasil, roubam as informações de uma empresa multinacional nos Estados Unidos, cujos dados estavam armazenados da Irlanda?
Atualmente, para casos como estes, existem acordos bi e multilaterais e cooperação internacional, ainda assim a confusão é grande. No Brasil, por exemplo, a ASSESPRO é protagonista sobre um debate da constitucionalidade da MLAT, um desses acordos. Vários juízes de primeira instância têm solicitado dados das representações locais de redes sociais, as quais alegam que o dado está armazenado fora do Brasil e que a solicitação dos mesmos deve seguir os procedimentos estabelecidos na MLAT, quando não se tratar de crimes graves ou que demandam urgência, tais como pedofilia, sequestro, homicídios e correlatos em severidade.
O fato é que a virtualização vai tornar esses movimentos que perpassam fronteiras muito mais comuns. Assim como um dos meus sonhos de criança foi realizado nas telas do cinema, é possível que alguém já esteja hoje sonhando com um mundo totalmente conectado, mais participativo, mais justo, mais inclusivo, muito mais virtual e que esse sonho venha a se materializar no futuro, por intermédio de políticas públicas bem estabelecidas, por um Governo Mundial.
*Jeovani Salomão é empresário do setor de TICs e ex-presidente do Sinfor e da Assespro Nacional.