Ontem assisti a um trecho da coletiva do novo presidente da Anatel, João Rezende, que me preocupou.
Ao anunciar que em breve serão realizados sorteios públicos de processos para os conselheiros – o que eu reputo como sendo uma boa medida de transparência da agência – o novo presidente João Rezende disse que “nunca viu” pedidos de empresas para que um mesmo conselheiro relatasse os processos delas.
Se lembram do assunto? Não?
Voltando à vaca-fria, Rezende afirmou que nenhuma empresa pediu à Anatel que os processos dela fossem relatados por um mesmo conselheiro. Voltei a indagar se isso nunca ocorreu na agência e nem nas reuniões do Conselho Diretor. Ele me respondeu por duas vezes: “Nunca”.
Depois…
João Rezende começou a recuperar gradativamente a memória.
Meio atrapalhado, admitiu que tal assunto constava numa Ata de reunião do Conselho Diretor, depois que eu insisti se isso não estava registrado em Ata. Mas deixou transparecer que uma empresa pode ter pedido para um mesmo conselheiro relatar os processos dela, sem necessariamente indicar qual.
E que esse pedido seria relevante quando os processos tivessem conexão no assunto. A mesma regra se aplicaria, segundo João Rezende, quando a Anatel entendesse que isso poderia garantir celeridade aos trabalhos – economia de tempo.
Reafirmo:
1 – A empresa que solicitou ao Conselho da Anatel para um mesmo conselheiro relatar os seus processos foi a Vivo.
2 – A Vivo pediu claramente que o relator dos seus processos fosse o conselheiro João Rezende.
3 – E o conselheiro que levou a demanda para a reunião que aprovou tal medida foi o próprio João Rezende.
4 – Rezende chegou a descartar a hipótese de que os temas dos processos fossem conexos. Mas assim mesmo pediu a relatoria alegando “economia de tempo”.
* Dou um “desconto” para o problema de falta de memória do conselheiro. Até eu esqueceria que o meu gabinete teria articulado essa estratégia há dois anos.