Estudo alerta: cenário geopolítico eleva riscos críticos à soberania de dados

A preocupação do governo brasileiro com a questão da soberania dos dados e a fixação de uma meta de até 2030 ter todos os dados críticos armazenados em território nacional faz sentido. A soberania de dados deixou de ser apenas uma exigência de conformidade regulatória e passou a representar um risco estratégico de negócios. Essa é a principal conclusão de uma pesquisa divulgada pela Pure Storage, em colaboração com a Universidade de Tecnologia de Sydney (UTS), que analisou os impactos da atual instabilidade geopolítica sobre a forma como empresas e governos tratam seus dados.

O estudo aponta que a incerteza internacional e a evolução regulatória criaram uma “tempestade perfeita”, na qual riscos de interrupção de serviços, influência estrangeira e novas exigências legais expõem companhias e nações a perdas financeiras, penalidades e danos de reputação sem precedentes.

Líderes globais estão preocupados

A pesquisa qualitativa ouviu executivos e especialistas em nove países – entre eles Austrália, França, Alemanha, Índia, Japão e Reino Unido – revelando consenso sobre a gravidade do tema. Entre os principais resultados:

  • 100% dos entrevistados confirmam que riscos de soberania já os obrigaram a reconsiderar a localização de seus dados;
  • 92% acreditam que mudanças geopolíticas aumentam a exposição a riscos;
  • 92% avaliam que o planejamento inadequado pode gerar danos reputacionais;
  • 85% veem perda de confiança dos clientes como consequência direta da inação;
  • 78% já estão implementando estratégias alternativas, como uso de múltiplos provedores, data centers soberanos e cláusulas de governança mais rígidas em contratos.

Estratégia híbrida como saída

Para o CTO internacional da Pure Storage, Alex McMullan, não há espaço para soluções simplistas. “As potenciais consequências da falta de uma estratégia moderna de soberania de dados são graves. Perda de confiança, prejuízos financeiros e desvantagem competitiva não podem ser ignorados. Recomendamos uma abordagem híbrida: cargas críticas devem permanecer sob soberania nacional, enquanto funções menos cruciais podem utilizar a nuvem pública. Assim, reduzimos riscos sem comprometer inovação e resiliência”, afirmou.

No caso brasileiro, em que se estima que 60% dos dados estão em nuvens no exterior, resta saber quanto desse volume pode ser considerado “dado crítico”.

Na mesma linha, Archana Venkatraman, diretora sênior de Pesquisa de Gerenciamento de Dados em Nuvem da IDC Europa, reforça que o tema precisa ser tratado como prioridade estratégica. “Organizações que fortalecem resiliência, controle e autonomia sobre seus dados conseguem reduzir dependências externas e proteger a confiança de longo prazo”, disse.

O levantamento, conduzido entre julho e agosto de 2025, evidencia que empresas de setores variados já se movimentam para reconfigurar suas cadeias de dados. Governos, por sua vez, ampliam exigências para mitigar riscos de espionagem digital, manipulação política e perdas em serviços críticos.