Especial Dataprev: diretoria esconde caos na gestão com um “hall da fama”

Informações sobre o quadro administrativo e operacional da Dataprev, demonstram a real situação de abandono da empresa, responsável pelo processamento de dados das pensões e aposentadorias de milhões de brasileiros. Fato que a consultoria escalada para produzir um balanço cor-de-rosa da Dataprev de 2021, que gerou lucro de mais de R$ 200 milhões para a empresa não constatou, o que deveria pelo menos ter alertado o governo para a crise.

A direção maquiando a realidade administrativa da Dataprev. Na sexta-feira, por exemplo, a diretoria gastou pesado para trazer funcionários de todo o país (maioria da regional do Rio de Janeiro), num período em que a passagem aérea para o trajeto Rio/Brasília chegou a custar mais de R$ 4,5 mil, para participarem do “Hall da Fama”.

Trata-se de um evento criado este ano na Dataprev, para premiar aqueles que se destacaram nos serviços que prestaram ao país durante o período mais duro da pandemia do Covid-19. Nada a questionar quanto ao mérito da premiação. Mas o evento internamente foi visto por muitos funcionários como um disfarce para o quadro administrativo caótico que está travada na produção.

Ao longo desta semana o Blog fará uma radiografia, em que aponta os piores indicadores de desempenho da estatal nos últimos anos, com sérios riscos para a imagem da Dataprev no futuro. Que já tem contra si a intenção do governo de privatizá-la no início do ano que vem, a depender apenas da reeleição do presidente Jair Bolsonaro.

Aquisições

Essa série de reportagens começa com a direção da empresa elencando um total de 72 aquisições consideradas por ela como “estratégicas” para o funcionamento da Dataprev. A empresa discute no ano anterior o Plano de Aquisições e o conselho de administração aprova o plano de ação do ano subsequente na última reunião do ano corrente.

Deste total de aquisições estratégicas, a direção alega ter 70 aquisições “ativas”; uma cancelada e outra em processo de cancelamento. Porém, avaliando o “quadro de aquisições” constata-se que a maioria das 70 nem foi efetivamente iniciada ou ainda segue diversas etapas no processo de compras que, para um ano eleitoral, com possibilidade de fim de uma gestão, fica difícil crer no êxito da empreitada.

Há um claro sinal de que a área de compras está travada devido a excessiva perda de tempo nas aquisições. Ao que parece, ninguém está querendo assumir a responsabilidade pela compra de itens que possam ser considerados inúteis no futuro, pois boa parte nem será utilizada à curto prazo pela empresa, devido ao alto volume de demandas do governo. Mas a falta de algumas compras vem impactando significativamente o desempenho operacional da Dataprev. Coisas como, não ter sido capaz de comprar computadores para os funcionários ao longo do período de home office.

Chama a atenção, entretanto, para as compras previstas pela estatal e as prioridades que as diretorias vêm dando para elas. Por exemplo, enquanto a Diretoria de Tecnologia e Operações (DIT) opta por classificar como “prioridade alta” a aquisição de alguns softwares necessários para o andamento dos trabalhos, como o caso de “ferramentas para sincronização de dados”; a Diretoria de Administração e Pessoas (DAP) considera prioritária a compra de “divisórias” para os centros de excelência e inovação nos estados.

Esses “centros de excelência” na realidade são os mesmos escritórios regionais que foram poupados na degola que a diretoria fez há uns dois anos em vários Estados, deixando apenas aqueles que considerou fundamentais para o funcionamento da Dataprev. Os que sobraram foram nos Estados de Santa Catarina, Ceará e Rio Grande do Norte, além do Distrito Federal, onde já existe a sede da empresa. O site de “inovação” da Dataprev fica no endereço: https://ideia.dataprev.gov.br.

A Diretoria de Administração e Pessoas também classificou como “prioridade alta” a reforma do escritório na regional da Dataprev do Cosme Velho (RJ), que nada tem a ver com a proposta de “inovação” da empresa. Ela funciona desde a fundação da estatal e mantém o controle de um dos centros de dados, responsável pelo sistema de pagamentos de aposentados e pensionistas.

Outro fator que chama a atenção é que praticamente nada foi comprado até agora. A maioria dessas “prioridades” ainda está na fase de elaboração de edital ou da publicação deles; ou ainda na fase de abertura do processo de licitação.

Ou seja, enquanto aguarda por softwares necessários ao funcionamento operacional, a Dataprev gasta tempo e dinheiro para melhorar a aparência de áreas de “inovação”. Que até agora ainda não disse a que veio, além de terem produzido um “chatbot”.