Por Clemilton Saraiva* – Vivemos tempos de rápidas transições de comportamentos econômicos, sociais e políticos com impactos globais sobre a economia mundial baseada no comércio de bens tangíveis que, gradativamente, vêm dando lugar à economia dos bens intangíveis.
As plataformas digitais e seus aplicativos, substituem velozmente os velhos métodos de trocas de bens e serviços por uma economia que provém de aceleradas trocas cognitivas, e disseminam novos conhecimentos que os cidadãos e cidadãs do mundo inteiro acessam, criam, produzem e reproduzem, e disponibilizam sem nenhuma barreira geopolítica ou de soberanias nacionais.
O novo comércio global desenha e abre novas oportunidades que ultrapassam as linhas geográficas substituindo-as por fronteiras digitais que são marcadas pelo império de plataformas globais que tudo gera e torna acessível, seja onde estiver a inteligência humana.
Quando trazemos essas mudanças para o nosso cotidiano, por exemplo, vemos redes sociais, plataformas de conteúdos e seus aplicativos transnacionais que transpõem barreiras de línguas, costumes e culturas desafiando os ultrapassados modelos de controles impostos pelos velhos modelos de Estados nacionais, criando novos direitos e permitindo que pessoas tenham contatos imediatos com as mais variadas e profundas percepções para encaminhamento e resolução de um mesmo problema ou desafio sob diversas óticas.
Neste diapasão, podemos observar que com o advento das plataformas globais, se adquire produtos, serviços e conteúdo em velocidade impressionante. Por exemplo, na China, eles são entregues de forma tão ou mais veloz do que ao se comprar um produto que vem de uma comunidade do Oiapoque brasileiro.
O exemplo pode ser simplório, porém, vem ao encontro dos desafios que o Brasil tem a enfrentar no desenvolvimento de uma educação para o empreender no mundo Digital. Questão que passa não somente por dispor infovias eletrônicas que, se bem articuladas por logísticas de entregas dos novos produtos, promoverão o acesso e contato com as novas e modificadoras inteligências, onde trafegarão informações, conhecimentos, tecnologias e inovações produzidas por infindáveis oportunidades que os meios instantâneos de interações de negócios irão gerar.
Toda essa instantaneidade provocará mudanças nas formas atuais de geração de emprego e renda. Essas velozes e criativas comunicações eletrônicas entre brasileiros e atores transnacionais farão nascer imprevisíveis soluções para a fome, doenças e a migração de povos, questões estas que afetam o mundo contemporâneo.
Estruturar um Ministério Nacional das Comunicações Eletrônicas não é só um desafio para fazer frente às mudanças na geopolítica global do comércio. É também se debruçar em cuidar do novo desenho para uma nova soberania nacional, advinda das fronteiras eletrônicas estabelecidas por plataforma e seus aplicativos.
Nesse novo desenho, outro grande desafio é destacar um esforço concentrado na reindustrialização de nosso país. A participação da indústria no PIB brasileiro caiu de 48%, em 1985, para pouco mais de 20% em 2021.
A indústria é o motor que impulsiona os demais setores da economia e nos leva à inovação e ao desenvolvimento tecnológico. É imperioso que se faça todos os esforços para impulsionar políticas industriais na área de semicondutores para podermos alcançar, em alguns anos, nossa soberania digital, e para que tenhamos vantagem sobre a concorrência da Ásia nesse setor.
O governo da China, nos últimos anos, nunca parou de promover sua indústria doméstica de semicondutores, onde se inclui design, fabricação e embalagem de chips.
Haveremos de planejar agora de como se dará a defesa dos interesses do nosso povo diante dos avanços tecnológicos da indústria e do comércio eletrônico globais e seus impactos nas vidas de todos os brasileiros.
Dotar o Brasil de uma infraestrutura de rede, ou seja, construir as grandes infovias que permitirão trafegar as informações e as estruturas de conhecimento da nossa gente. Esse é o desafio, talvez, maior que o percebido por JK ao interligar o Brasil por grandes estradas que permitiram que os brasileiros alavancassem o comércio dos produtos e das tecnologias nacionais internamente e para além de suas fronteiras.
*Clemilton Saraiva, Especialista em Regulação de Serviços de telecomunicações, formado pelo INATEL.