Por Juliana Ramalho* – As startups brasileiras viveram ‘anos dourados’ até 2021. De acordo com o Relatório 2021 Wrapped Brazilian Startups elaborado pela plataforma Sling, elas contrataram no ano passado mais de 100 mil pessoas, marca recorde no ecossistema brasileiro de inovação. Em relação aos investimentos, registraram um aumento de 200% no volume aportado.
Porém, as turbulências no cenário econômico do país, aprofundadas pelas incertezas da crise gerada pela pandemia, e pelas consequências de uma guerra sem prazo para terminar tem inviabilizado os aportes e a atratividade desse negócio começa a mostrar sinais de fraqueza. Inflação, alta dos juros, consumo em queda, aumento da pobreza e consequente queda na demanda por serviços de tecnologia com a volta presencial ao trabalho, eventos etc. dão a tônica de um novo cenário nada acelerado para esse modelo de negócio.
Neste momento, o mercado começa a segurar os investimentos mais arriscados para buscar rentabilidade em ações mais seguras e estáveis e essa não é uma preocupação apenas das startups brasileiras. O ouro do investimento está comedido, escasso e cada vez mais conservador no mundo todo.
As demissões já são realidade das empresas desse segmento no Brasil. Pelo menos dez grandes startups já anunciaram dispensas de colaboradores neste ano. Outras tantas, já informaram suas retiradas do país por falta de investimentos.
O momento pede reserva de caixa e um fôlego extra que empresas dessa origem não foram preparadas para ter, porque o exponencial crescimento dos seus negócios navegava em outro ritmo. O desafio da falta de atratividade dos investidores exige uma habilidade extra que será fundamental para manter os negócios ativos até essa maré voltar a soprar bons ventos.
Diante dessa ausência de investimentos, o que as startups precisam é de colaboradores com conhecimento do negócio e experiência em ondas de crises econômicas no país. Esses é que poderão ajudar a recuperar a saúde financeira dos caixas a partir dos seus conhecimentos tácitos.
O guardião do seu caixa precisa estar além da linguagem “startupeira” e importante para acelerar, mas nem sempre preparada para essa espera. É preciso contar com habilidades para fazer a empresa ‘voltar algumas casinhas’ nesse jogo para manter a sua existência.
Essa “casca dura” que os profissionais mais experientes de mercado e que já vivenciaram muitas crises em grandes empresas será fundamental apoio para o momento em que as startups estão atravessando. Os desafios não estão apenas nas finanças. Começam por lá, mas permeiam as áreas comerciais e de compliance. Essa “reorganização interna” para lidar com um mercado sem investimentos passa pela demissão em massa após o “boom” do crescimento.
Assim como as grandes corporações, esse modelo de “estica e puxa” de contratações não se comprova sustentável e, por essa razão, exige uma força de trabalho mais qualificada. Esse perfil de profissional em breve vai começará a ser mais demandado pelas empresas, porque não haverá tempo hábil para formar jovens suficientes para enfrentar os desafios que já começam a chegar.
Os profissionais maduros, estão disponíveis e continuam produtivos em um mercado que insiste em torná-los invisíveis. Mas, é cada vez mais óbvio que não será possível sobreviver sem a ajuda dos mais experientes.
Esse apoio surge em novos modelos de contrato de trabalho viáveis, que superam a CLT e permitem às startups a aquisição de serviços altamente qualificados de um ex-CFO, de um ex-CEO oriundos de grandes empresas, por exemplo, e que estão disponíveis e preparados para ajudá-los com grandes desafios para proteção de seus caixas.
Além disso, a experiência desses profissionais somadas às novas tecnologias e os insights do time mais jovem podem gerar uma mistura de impacto muito positivo, especialmente nas inovações que a empresa ainda vai querer criar.
Essa “sacudida” inesperada no mercado de startups reforça a tese de que mar calmo nunca formou bons marujos, mas nem por isso é preciso se arriscar tanto assim. Na falta das ‘venture builder’, o que as startups precisam agora é da experiência disponível dos profissionais sêniores. Ela pode ser a ‘tábua de salvação” e quem sabe trazer de volta a luz dourada que as startups não conseguem mais enxergar.
*Juliana Ramalho, sócia e CEO da Talento Sênior.