Começa o desmonte das unidades regionais da Dataprev

Em comunicado interno, a direção da Dataprev – capitaneada pela presidente Christiane Edington, que tem em seu currículo a venda da Telebahia, na privatização da Telebras – anuncia o “PAQ” – um programa de incentivo ao desligamento de funcionários da estatal, em 20 unidades regionais que serão extintas até o fim de fevereiro deste ano.

A desculpa para o corte é a “crescente e inevitável digitalização e a modernização das ferramentas tecnológicas”, que não por acaso são fruto do trabalho dos próprios funcionários que estão sendo “incentivados” a pedirem demissão.

Na realidade trata-se de mais uma ação de enxugamento e preparação da venda da empresa que está na lista das privatizações do Governo Bolsonaro.

Ginástica contábil

Porém, a melhor desculpa dada pela direção da empresa para justificar a adoção desta drástica medida – que significará o fim da presença da empresa nos Estados – foi um suposto “desequilíbrio” financeiro que haveria nas contas da Dataprev. Empresa que vem operando no “azul” há mais de 10 anos, segundo dados dos seus balanços financeiros.

Pela genial versão da diretoria da Dataprev, o enxugamento decorreria do fato de que a empresa – que na média dos últimos três anos obteve um crescimento de 13% nas suas receitas – amargou um aumento nos gastos em torno de 21%.

Por esse motivo, a diretoria entendeu que seriam necessárias agora “ações rápidas”, visando a “sustentabilidade” nos próximos anos, através de uma atuação “mais eficiente e competitiva”.

Trata-se do primeiro caso de “saneamento financeiro” de uma empresa que vem operando no azul no Brasil, que obteve crescimento acima da média brasileira, quiçá do mundo!!! Isso mereceria estudos por parte da ABES e de outras associações brasileiras que congregam as empresas de software, além da IDC.

Explico.

Se a Dataprev cresceu em média 13% nas receitas, isso significa que ela bateu longe todo o setor de software e hardware brasileiros, que em 2018 – segundo dados da ABES e da IDC – obteve um crescimento da ordem de 9,8%, quando na época esperava-se apenas um crescimento em torno de 4%. No comparativo com o resto do mundo, a Dataprev também surpreendeu, pois os dados apontaram um crescimento de apenas 6% entre os diversos países.

A expectativa agora é de que as informações sobre o comportamento do mercado brasileiro de software em 2019 confirme ou ultrapasse um crescimento estimado em 10%. Ou seja, se confirmado esse desempenho e, tudo indica que será, ainda assim a Dataprev está acima dos patamares do mercado.

Portanto, cortar gastos preventivamente, diante da expectativa de um cenário de crise financeira, que nunca existiu nessa empresa estatal, não passa de má-fé. Se esta direção estivesse interessada e cortar gastos, não fazia viagens de “imersão e aprendizado” à China, não autorizava funcionários da área jurídica a fazerem cursos em Portugal e muito menos comprava serviços de desenvolvimento de software que nunca foram executados.

O que a direção da Dataprev quer é entregar ao mercado privado de software os contratos que mantém nessas unidades regionais. Até nessa questão não há justificativa plausível para o setor público se retirar do mercado. O fim dessas regionais da Dataprev significará que a empresa está deixando de atuar no segmento público, em mercados onde a demanda por serviços é crescente.

*Essa direção da Dataprev deveria ir é para a cadeia. E não para a China.