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Não há como não admitir que, do ponto de vista de um investidor em Inteligência Artificial Generativa, os chineses se mostraram capazes de fazer o mesmo que outras instituições e empresas no mundo ocidental, com menos recursos e melhores resultados. Isso deverá provocar daqui para a frente uma nova discussão sobre o custo da inovação e muitos fatores ainda terão que ser considerados no debate sobre esse avanço tecnológico.
Mas a IA chinesa não pode mais ser encarada apenas como uma grande surpresa. Ela é consequência de uma pesada política de investimentos nos últimos 10 anos, que começam a apresentar resultados. Os EUA e demais países ocidentais que se aventuram na pesquisa científica e no desenvolvimento desta tecnologia conseguirão se manter à frente dos chineses? Essa ainda é uma questão que provocará muita controvérsia. Porém, desde 2023, segundo a Organização Mundial da Propriedade Intelectual, a resposta momentânea é “não”.
Um relatório divulgado em meados do ano passado pela entidade com base em observações sobre a atividade de patenteamento e pesquisas científicas e publicações na área de GenAI entre 2019 e 2023, já chamava a atenção e mostrava que os Chineses estão ocupando a liderança mundial nesse segmento.
De acordo com o OMPI, o objetivo do relatório foi “lançar luz sobre o desenvolvimento tecnológico atual, sua dinâmica de mudança e as aplicações em que se espera que as tecnologias GenAI sejam utilizadas”. Dentro desse contexto, o estudo identifica os principais locais de pesquisa, o posicionamento das empresas e organizações no desenvolvimento das aplicações e em que áreas estão avançando na economia mundial. E as variáveis de sucesso nos modelos de IA proprietários e de códigos abertos.
Domínio do conhecimento
De acordo com a Organização Mundial da Propriedade Intelectual, o número de publicações científicas aumentou drasticamente entre 2014, quando foram registradas 100 publicações, para mais de 34 mil em 2023. Já nessa época a organização previa o que está ocorrendo agora com o lançamento do DeepSeek, que abalou o mercado financeiro de Tecnologia.
“É provável que o lançamento de modelos e ferramentas GenAI muito bem-sucedidos e populares em 2022 (ChatGPT, Stable Diffusion, LlaMA, etc.) tenha iniciado uma nova onda de pesquisa GenAI. Muitas das pesquisas mais recentes parecem estar focadas em reduzir o tamanho de grandes modelos generativos, em controlar melhor o processo de geração e em explorar várias aplicações e domínios“, já antecipava a organização, sem nem ter ideia ainda da presença do DeepSeek.
Num quadro comparativo, a OMPI destacou o fato de que, embora em 2023 as publicações de famílias de patentes tenham aumentado, elas não fizeram frente ao grande volume de novas publicações científicas.
“Pode-se esperar, no entanto, que haja uma aceleração semelhante para publicações de famílias de patentes em 2024 e 2025, pois geralmente há um atraso de 18 meses entre o depósito e a publicação de novas patentes”, profetizou a OMPI, já que estamos assistindo isso agora com os novos lançamentos de modelos de IA generativa chinesa.
O estudo mostra também, que a IA Generativa ganhou notoriedade mundial, mas ela é apenas um componente pequeno no universo da tecnologia de Inteligência Artificial. “Ao comparar o desenvolvimento das publicações da família de patentes de IA Generativa com todas as publicações da família de patentes de IA, desde 2014, fica claro que o GenAI ainda é apenas uma parte relativamente pequena de toda a atividade de pesquisa“, destacou o organização.
Mas a OMPI está ciente de que a IA Generativa tende a se tornar mais relevante no contexto da Inteligência Artificial. “Dado o lapso de tempo entre o depósito e a publicação de novas patentes mencionado acima, o recente aumento na atividade de pesquisa GenAI provavelmente se tornará mais visível nos dados de patentes a partir de 2024 em diante”. Não é o que está começando acontecer agora?
Principais proprietários de patentes
De acordo com o relatório, nos últimos 10 anos a publicação de patentes de IA generativa se concentrou em apenas três corporações chinesas: Tencent, Ping An Insurance Group e Baidu. A Tencent lançou seu próprio chatbot de IA baseado em seu LLM “Hunyuan”, que suporta criação de imagens, redação e reconhecimento de texto, entre outras aplicações. A empresa usa o “Hunyuan” para adicionar recursos de IA aos seus principais produtos, como o WeChat, para melhorar a experiência do usuário.
As iniciativas de IA da Ping An Insurance focam em modelos generativos para subscrição e avaliação de risco. E a Baidu foi uma das primeiras participantes no espaço “GenAI” e lançou recentemente o chatbot de IA baseado em LLM, o “ERNIE 4.0”. A Baidu também desenvolveu vários LLMs para indústrias como TI, Transporte ou Energia.
A corporação norte-americana melhor posicionada nesse ranking é a IBM, mas mesmo assim está na quinta colocação, atrás da Academia de Ciências Chinesa. As demais empresas americanas encontram-se bem abaixo na relação dos 20 maiores depositantes de pedidos de patentes no mundo. A Alphabet/Google é o oitavo colocado, a Microsoft (10ª) e a Adobe (19ª) em pedidos de patentes de sistemas de Inteligência Artificial generativa.
O domínio chinês no top 20 das corporações é evidente, mas a grande surpresa é a Academia de Ciências Chinesa ocupar a quarta posição deixando bem para trás outras corporações daquele país, além de gigantes da indústria eletrônica: Alibaba Group (6º), Bytedance (nono), BBK Electronics (11ª), Netease (12ª), Huawei (14ª), China Mobile (17ª) e State Grid (18ª) são outras empresas chinesas no top 20. Já a
IBM (quinto), Alphabet/Google (oitavo), Microsoft (10ª) e Adobe (19ª); são as principais empresas dos EUA em GenAI patentes depositadas.
E de produção científica
“Um olhar mais atento às atividades de pesquisa de organizações de pesquisa ao redor do mundo mostra que a Academia Chinesa de Ciências tem de longe a atividade de patentes mais extensa. A instituição chinesa publicou mais de 600 famílias de patentes desde 2014, quase o dobro das segunda e terceira colocadas Universidade Tsinghua e Universidade Zhejiang”, destacou o relatório.
A hegemonia chinesa é evidente nesse ranking dos 20 maiores depositantes de patentes do mundo. No total, oito das 10 principais e nove das 20 principais organizações de pesquisa são chinesas. Além das universidades chinesas, há quatro universidades dos EUA (Universidade da Califórnia, Universidade Northwestern, Universidade Stanford, Universidade Estadual do Arizona), três organizações de pesquisa da República da Coreia (Conselho Nacional de Pesquisa de Ciência e Tecnologia), Instituto Avançado de Ciência e Tecnologia da Coreia, Universidade Nacional de Seul), três organizações de pesquisa japonesas (Instituto Nacional de Tecnologia da Informação e Comunicação), Universidade de Tóquio, Universidade de Osaka) e uma universidade suíça (Eidgenössische Technische Hochschule Zürich).
Em relação às principais instituições, em termos de contagem de publicações científicas, a China e os EUA dominam com várias organizações de pesquisa no top 20 (a China tem oito, os EUA seis). Novamente, a Academia Chinesa de Ciências está claramente à frente com mais de 1.100 publicações científicas desde 2010. A Universidade Tsinghua e a Universidade Stanford seguem nas posições 2 e 3 com mais de 600 publicações científicas cada. Alphabet/Google (quarta) é a única empresa que está classificada entre as 20 principais instituições com 556 publicações científicas.
Impacto midiático
Apesar de ocupar a primeira posição no ranking das publicações científicas, a Academia Chinesa de Ciências acaba amargando a nona posição no ranking da divulgação dos trabalhos e das citações públicas sobre eles. Neste caso, a Alphabet/Google, que ocupa a quarta posição no número de publicações, saltou para a primeira colocação no volume de citações sobre os seus trabalhos científicos, num período entre 2010 e 2023.
“O número de citações que uma publicação recebe é, portanto, frequentemente considerado um indicador mais confiável. Os números de citações por instituição mostram posições mais altas para empresas. Alphabet/Google se torna a instituição líder por uma grande margem, e sete outras empresas estão presentes no top 20”, informa a Organização:
O estudo também mostra que a OpenAI alcançou a 13ª posição no ranking das publicações com maiores citações. Um feito considerado “notável” pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual, porque se deve ao fato de que a empresa teria publicado apenas 48 artigos, de acordo com avaliações o Corpus GenAI, o que a levou à 325ª instituição em termos de contagem de documentos. Mesmo assim, essas publicações acabaram posicionando bem a empresa no debate mundial, após receberem um total de 11.816 citações. “Esse impacto é notável em nosso estudo, em particular considerando que muitas das publicações da OpenAI são pré-impressões e não publicadas em grandes conferências e periódicos”, destacou a OMPI.
Depois dos últimos acontecimentos com a divulgação das novas IA generativas chinesas e o tombo que elas causaram no mercado financeiro com as ações dos concorrentes, fica a indagação para ser respondida no futuro: por quanto tempo a OpenAI ou outra solução ocidental conseguirá se manter no topo dessa cadeia tecnológica?