
O Brasil tem diante de si uma das maiores oportunidades econômicas da década: transformar-se em polo regional de infraestrutura digital e processamento de dados. Segundo o presidente da Brasscom, Affonso Nina, se o país conseguir reduzir custos e tornar o ambiente regulatório mais competitivo, a base instalada de data centers poderá quase triplicar até 2030, saltando dos atuais 800 megawatts (MW) para 2,6 gigawatts (GW). Ele participou de audiência pública hoje (15) na Comissão de Ciência, Tecnolgia e Inovação da Câmara dos Deputados
“Estamos falando de uma expansão que pode atrair cerca de US$ 100 bilhões em investimentos nos próximos anos. Isso inclui desde a construção civil até a fabricação de equipamentos e o desenvolvimento de softwares e sistemas”, afirmou.
O crescimento projetado é explicado pela demanda crescente por serviços em nuvem, inteligência artificial e processamento corporativo, que exige mais capacidade computacional instalada dentro do país. Segundo Affonso, cada megawatt instalado em infraestrutura representa cerca de US$ 10 milhões em investimentos, apenas na parte física — construção, energia e refrigeração. A chamada “camada de processamento”, que envolve servidores, dispositivos de armazenamento e redes, multiplica esse valor por três a cinco vezes.
“Um data center de 10 megawatts movimenta cerca de US$ 500 milhões entre infraestrutura e equipamentos. Quando projetamos o crescimento até 2030, o volume total chega perto de US$ 100 bilhões, considerando a expansão gradual da capacidade instalada”, explicou.
Impacto na cadeia produtiva
A expansão dos data centers tem efeito multiplicador sobre a economia. Além de gerar empregos altamente qualificados na engenharia e construção dessas estruturas, impulsiona setores como cibersegurança, telecomunicações, software e fabricação de componentes eletrônicos.
Affonso destacou que parte dos equipamentos utilizados já é montada no Brasil, e o governo pretende ampliar a produção local, em parceria com fabricantes internacionais. “Não se trata de produzir tudo aqui, mas de encontrar o ponto ótimo entre importação e produção nacional. Há componentes que faz mais sentido fabricar no país, especialmente diante da expansão de demanda que teremos”, observou.
Além de atender o mercado interno, o plano prevê que o Brasil exporte serviços de processamento de dados para outros países da América Latina. Com energia limpa e matriz elétrica estável, o país reúne condições estratégicas para sediar mega data centers de empresas globais, desde que consiga reduzir a carga tributária e agilizar licenças de implantação.
“Se fizermos bem nossa lição de casa, podemos não só atender toda a demanda nacional, mas também vender capacidade digital para o mundo, consolidando o Brasil como hub regional de tecnologia”, destacou.