Brasil corre contra o tempo para autonomia digital

Ao participar de audiência pública hoje (15) na Comissão de Ciência, Tecnolgia e Inovação da Câmara dos Deputados, o presidente da Brasscom, Affonso Nina, disse que o Brasil enfrenta um déficit crescente na capacidade de processamento de dados, o que ameaça sua posição no cenário global da economia digital. Apesar do tamanho da economia e da expansão do mercado tecnológico, o país ainda depende de data centers estrangeiros para rodar parte significativa de suas operações digitais — desde plataformas corporativas até serviços públicos em nuvem. Ministério da Fazenda estima que 60% dos dados brasileiros estão no exterior.

Segundo ele, o problema tem origem no alto custo de implantação de data centers no Brasil, que chega a ser 20% a 30% superior ao de outros países. “Hoje, processar dados no Brasil é mais caro do que processar fora. Isso faz com que parte importante desse processamento acabe sendo feita no exterior, quando poderia ser feita aqui”, afirmou o executivo da Brasscom.

Autonomia digital

A disparidade de custos tem consequências diretas na autonomia digital do país, conceito que expressa a capacidade nacional de controlar e proteger suas próprias infraestruturas críticas de dados.
Affonso alerta que, sem um plano de incentivo, o Brasil continuará dependente de servidores estrangeiros, o que fragiliza a soberania tecnológica e aumenta a vulnerabilidade em áreas estratégicas — como governo eletrônico, finanças e saúde. “Há uma demanda local que não está sendo atendida. As empresas brasileiras pagam mais caro pelo processamento ou acabam optando por soluções improvisadas, porque o custo de acesso aos data centers eficientes é muito alto”, explicou.

Redata

A Medida Provisória que cria o programa Redata pretende mudar esse quadro ao reduzir tributos federais — como PIS, Cofins, IPI e tarifas de importação sobre equipamentos — e estimular novos investimentos privados no setor. A ideia é baratear a construção e operação de data centers em território nacional, atraindo empresas estrangeiras e fortalecendo a infraestrutura doméstica.

Affonso Nina destaca que o processo será gradual, mas essencial: “Esse desenvolvimento não acontece da noite para o dia. Se não fizermos nada, o Brasil continuará ficando para trás nesse jogo global.”

No mercado internacional, o processamento de dados se tornou um ativo estratégico, capaz de determinar o protagonismo digital das nações. Países que concentram grandes parques de data centers atraem empresas, geram empregos qualificados e exportam serviços de tecnologia.

Para o Brasil, o desafio é transformar sua dimensão econômica e matriz energética limpa em vantagens competitivas, consolidando uma infraestrutura capaz de sustentar o crescimento da economia digital e reduzir a dependência tecnológica externa. “Essa é uma oportunidade única para o país retomar o protagonismo digital, com benefícios que vão da inovação à soberania nacional”, concluiu Affonso.