Por Nayam Hanashiro* – Com o contínuo aprendizado e adoção no mercado, tem-se ampliado o entendimento de que a tecnologia blockchain vai muito além das criptomoedas, e que suas aplicações para o mundo de negócios podem trazer, além de benefícios de negócio, também uma oportunidade relevante no poder de análise de dados das empresas.
Essa é uma tendência que já foi notada pelo Gartner, que colocou o blockchain entre as dez principais em Data Analytics para 2020. Isso ocorre pelo fato de a tecnologia tratar dois desafios muito comuns às empresas. Primeiro, o blockchain fornece rastreabilidade de ativos e transações, o que inerentemente provê uma linhagem dos dados nas operações. Depois, pode oferecer transparência a redes de negócios e cadeias de valor complexas, com muitos participantes.
Essas características possibilitariam identificar, por exemplo, quais participantes da rede estão interagindo entre si; como uma primeira interação impulsiona as seguintes; como estas interações mudam com o tempo e se são persistentes ou transitórias; e quem são os participantes mais importantes (e mais influentes) da rede.
Em um mundo de negócios com ampla e franca de colaboração, esse cenário levaria a um novo e inédito patamar de análise de dados, sendo possível gerar inteligência e criar insights em nível de mercados e industrias, e não somente de empresa (através benchmarks, estatísticas, análises preditivas ou mesmo inteligência artificial), dispensando até mesmo empresas provedoras de dados (Market Data).
No entanto, a competição e estratégias das empresas colocam um requisito como peça central antes da colaboração: a privacidade. Então, por mais promissora que seja uma rede de negócios com essas características, a confidencialidade da informação, quando necessária, e o compartilhamento de dados somente entre partes interessadas são peças chave para o sucesso de grande parte dos projetos blockchain corporativos. Dependendo de quais são os requisitos para essa rede, até recursos de computação confidencial seriam necessários para dar confiança a essa colaboração corporativa.
A observação que fica é atentar para que a tecnologia blockchain enderece todas essas demandas, se integrando com outros recursos computacionais se necessário, criando uma rede segura para que empresas compartilhem dados inerentes as operações com seus parceiros e ao mesmo tempo proporcionando inteligência coletiva (de mercado ou indústria) para seus negócios.
Alguns exemplos ilustram essa situação, como o de Seguradoras que precisam compartilhar informações sobre sinistros fraudulentos sem violar as regras de confidencialidade, ou pacientes que gostariam de contribuir com seus registros para ajudar a combater uma doença, mas que ficariam arrasados se as informações sobre sua doença se tornassem públicas. Uma análise mais ampla pode ser vista aqui .
Outro ângulo a se analisar é que o Gartner prevê que, até 2023, as organizações que estiverem utilizando smart contracts baseados em blockchain aumentarão a qualidade geral de seus dados em 50%. Isso porque sua adoção aumenta a velocidade e a granularidade do processo de tomada de decisão, uma vez que a verificação contínua de regras de negócio codificadas para execução automatizada (smart contracts) torna estes dados mais precisos e confiáveis.
Talvez o termo qualidade de dados ao qual se refere o Gartner possa ser mais bem expressado como integridade de dados, já que a tecnologia blockchain garante que a informação ou transação sendo compartilhada em uma rede de negócios se mantenha imutável, ou que sua atualização necessite do consenso dos participantes envolvidos.
Porém, a qualidade do dado em si está sujeita as regras de negócio criadas nos smart contracts e, caso haja intervenção humana, infelizmente também haverá erros de input. Para mitigar esse desafio, projetos interessantes integrando novas tecnologias tem surgido no mercado, como por exemplo blockchain e dispositivos IoT (internet das coisas), justamente para automatizar o fluxo de informações entre os participantes de uma rede de negócio.
O fato é que conforme as redes de negócio em blockchain forem se materializando, ficará mais evidente a oportunidade para evolução da inteligência coletiva através dessa nova fonte informações. Seguindo os padrões adequados de segurança e confidencialidade, esperamos que isso influencie a cultura das empresas orientadas a dados e mude a forma como tomamos decisões de negócio.
*Nayam Hanashiro é diretor de alianças estratégicas da R3.