
A analista de Produtividade e Inovação da ABDI, Isabela Gaya, detalhou os próximos passos para implementar Data Spaces no Brasil durante webinar que reuniu governo, indústria e academia. A agência consolidou estudos realizados em 2023–2024 — com NEO-UFRGS, ABINC, apoio da GIZ, e, no agro, parceria com o Parque Tecnológico de São José dos Campos e a Safe Trace — e definiu manufatura/ferramentarias como o setor mais propício para um projeto-piloto.
“Sete em cada dez dados industriais capturados não são usados. Data Spaces são o caminho para transformar esse volume em decisões, eficiência e novos modelos de negócio”, afirmou Gaya.
Por que a urgência?
Problema: silos de dados, falta de padronização, custos, carência de skills, receios com segurança/LGPD e propriedade intelectual.
Solução: ecossistema peer-to-peer (sem “nuvem centralizadora”) que habilita transferência segura e negociada de dados entre participantes, com contratos inteligentes, auditoria e certificações.
Valor: migração de análises descritivas para diagnósticas, preditivas e prescritivas, elevando produtividade, manutenção preditiva, rastreabilidade e criação de serviços baseados em dados (ex.: “passaporte digital” para ferramentarias).
Setor-piloto: manufatura e ferramentarias
Segundo a analista de Produtividade e Inovação da ABDIA, essa escolha levou em consideração a base de dados disponível (temperatura, vibração, corrente, ruído, produção, tempo de setup); Maior padronização de processos e referência internacional (Europa concentra casos em manufatura, como iniciativas de smart maintenance); Efeito transversal: manutenção de máquinas é comum a praticamente toda a indústria, o que facilita escala do piloto para outros ramos.
A governança do modelo terá três níveis:
- Macro (estratégico-regulatório): diretrizes legais, técnicas e econômicas — atores como MDIC, MCTI, MGI e a própria ABDI;
- Meso (orquestração do ecossistema): hubs e associações — ABINC e congêneres — integrando parceiros e casos de uso;
- Micro (execução): empresas e ICTs provendo conectores, APIs, autenticação, brokers de metadados e clearing house de auditoria (ex.: Instituto Eldorado, hub credenciado).
Business case e custos
A ABDI, segundo a executiva, consolidou cotações internacionais de provedores de Data Spaces. Para um piloto de 12 participantes por 12 meses, o envelope indicativo é ~€ 140 mil (proposta de fornecedor europeu citada por Gaya). O escopo inclui conectores, ontologias, testes de interoperabilidade, treinamentos, suporte e adequação jurídica (modelos europeus de smart contracts, adaptados à realidade brasileira e à Política Nacional de Economia de Dados em construção). Uma lição do estudo, de acordo com Isabela, sugere começar pequeno e escalar após validar tecnologia, governança e modelo de negócio.
“Nosso papel é articular e reduzir atritos de entrada. Começamos com 12 empresas, validamos e escalamos. O objetivo é um ecossistema seguro, soberano e competitivo para a indústria brasileira”, destacou Isabela Gaya.
Modelo operacional (simplificado)
1) Publicação do dado pelo provedor; 2) Descoberta/negociação em plataforma (condições, segurança, privacidade); 3) Transferência segura e auditável; 4) Compliance e logs registrados (clearing). Atores essenciais: provedores de serviço (conectores/contratos), broker (catálogo), clearing house (auditoria) e uma “app store” para serviços analíticos.
O roadmap, segundo ela seguirá o modelo de maturidade da IDSA e boas práticas europeias. O objetivo é elevar a prontidão do ecossistema nacional, com normalização técnica, certificações e open source como base tecnológica.
Próximos passos:
- Rodada de articulação com o setor manufatureiro;
- Prospecção de operadores nacionais de Data Space e demais atores de governança;
- Captação de recursos e implantação do piloto;
- Definição de normas e padrões e ajuste do modelo de sustentabilidade do ecossistema;
- Comunicação e engajamento das empresas para adesão por ondas.







