A chegada do TikTok Shop e o desafio logístico para o varejo

Por Stefan Furtado* – O TikTok Shop chegou oficialmente ao Brasil. A estreia da funcionalidade, que permite compras diretamente dentro do aplicativo, não apenas marca a entrada definitiva de uma das plataformas sociais mais influentes no universo do varejo digital, como também acende um alerta importante para o setor: o Social Commerce deixou de ser tendência e já se consolidou como um canal de vendas que exige respostas rápidas, estruturadas e tecnológicas. 

Com 111,3 milhões de usuários, o Brasil é hoje o terceiro maior mercado do aplicativo, atrás apenas da Indonésia (161 milhões) e dos Estados Unidos (137 milhões) — dois países onde o TikTok Shop já está consolidado. Além disso, um estudo da Grand View Research indica que o mercado brasileiro de social commerce gerou uma receita de US$ 12,5 milhões em 2023 e projeta-se que atinja US$ 67,3 milhões até 2030, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 27,2% entre 2024 e 2030. 

Esses dados reforçam que o potencial do setor no país é real e crescente, impulsionado principalmente pela digitalização do consumo, o protagonismo das gerações mais jovens e a força das redes sociais como ponto de influência e conversão.

Diferentemente das estratégias tradicionais, onde os conteúdos patrocinados ou influenciadores redirecionam o usuário para o e-commerce da marca, o Social Commerce encurta o funil: a jornada de descoberta, decisão e compra acontece toda dentro da rede social. Essa mudança aparentemente sutil tem impactos profundos em toda a cadeia de suprimentos. Porque, facilitando o processo de compra, o volume de itens vendidos cresce exponencialmente.

Do ponto de vista logístico, o desafio é enorme. Se antes os varejistas estavam acostumados a processar grandes volumes para centros de distribuição regionais ou lojas físicas, agora é preciso gerenciar um fluxo pulverizado, com entregas unitárias para milhares de endereços distintos, em tempo recorde. O consumidor que compra em uma rede social espera, além de conveniência, velocidade. E isso só é possível com uma malha logística integrada, flexível e suportada por tecnologia.

Nesse cenário, ferramentas de gestão de pedidos, visibilidade em tempo real e gestão unificada de transportes e armazéns ganham protagonismo. A omnicanalidade precisa deixar de ser conceito e virar operação. Varejistas que pretendem se destacar nesse novo ambiente devem garantir que suas plataformas tecnológicas consigam selecionar a melhor opção de fulfillment, ou seja, o conjunto de processos entre o momento do pedido até a entrega ao cliente, automaticamente. É importante que elas possam conectar estoques de múltiplas origens, e oferecer alternativas de entrega que vão desde o envio direto ao consumidor até o uso de lockers, drive-thrus ou retiradas em loja.

A experiência do cliente também precisa evoluir. O Social Commerce exige agilidade em todos os pontos de contato — inclusive no pós-venda. Responder dúvidas, resolver problemas com pedidos e executar devoluções precisa ser simples, rápido e adaptado ao canal em que o cliente está, seja ele WhatsApp, Instagram, chatbot, ou agora, o Tik Tok.

Do comércio omnicanal ao planejamento e execução da cadeia de suprimentos, se os varejistas quiserem oferecer uma experiência de compra social tão fluida quanto as experiências físicas e de e-commerce que os consumidores passaram a exigir nos últimos anos, precisam reconhecer os benefícios de uma abordagem integrada — o chamado Supply Chain Commerce. Afinal, são esses recursos que permitirão que as marcas se posicionem com competitividade e aproveitem ao máximo a oportunidade multibilionária que o Social Commerce representa.

*Stefan Furtado, Gerente Regional da Manhattan Associates, líder em tecnologia para cadeias de suprimentos e comércio omnicanal.