Huawei defende corte de impostos e aposta no Brasil como hub global de data centers

O Brasil reúne duas condições fundamentais para se tornar um dos maiores polos de data centers do mundo: energia elétrica abundante e uma rede de conectividade robusta. Mas, segundo a Huawei, falta um terceiro pilar para viabilizar essa transformação: reduzir a carga tributária sobre equipamentos de informática, considerada hoje um dos maiores entraves ao investimento no setor.

Durante o workshop: “Horizonte Renovável: A era dos Data Centers no Brasil” em Brasília, promovido pela Aneel, Luciano Santos, diretor de Data Center e Energia Crítica da Huawei, lembrou que o crescimento explosivo da demanda por processamento, impulsionado pela inteligência artificial, torna urgente repensar as políticas públicas para o setor. “Um data center nada mais é do que uma caixa que consome energia elétrica e transforma isso em dados. Se não houver conectividade e condições econômicas favoráveis, não há como competir globalmente”, afirmou. Santos participou do Painel 1: “O papel dos Data Centers no processo de transformação digital”.

Energia e conectividade: vantagens brasileiras

Santos destacou que o país já tem dois pilares estratégicos consolidados. O primeiro é a matriz energética limpa, com forte participação de fontes renováveis, o que coloca o Brasil em vantagem diante de países que ainda dependem de carvão, como os Estados Unidos. O segundo é a conectividade internacional, com destaque para cabos submarinos que chegam ao Brasil e ao Chile, tornando-os os principais pontos de entrada de dados nas Américas.

Segundo ele, essas condições criam um ambiente propício para que o Brasil absorva parte da demanda global por infraestrutura, especialmente diante da previsão de escassez energética nos EUA para suportar a expansão de data centers voltados à IA.

O desafio da tributação

O gargalo está na carga tributária sobre equipamentos críticos, como CPUs e GPUs, que podem ter custos até 50% maiores por conta de tarifas de importação. “Se eu sou um investidor, vou procurar onde meu capital rende mais. Hoje, o Brasil não é competitivo nesse ponto”, ressaltou o executivo.

Ele defendeu a aprovação do projeto Redata, que tramita no governo federal e prevê isenção de impostos para equipamentos sem similar nacional. “Não se trata de benefício, mas de evitar majoração artificial que afasta investimentos. Esse será o passo decisivo para atrair grandes players”, disse.

Três ondas da transformação digital

Santos também fez uma retrospectiva da evolução dos data centers:

  1. Primeira onda: infraestrutura interna das empresas, dedicada a e-mails, sistemas de CRM e faturamento.
  2. Segunda onda: a migração para a nuvem, impulsionada por ganhos de eficiência e redução de custos.
  3. Terceira onda (atual): o salto da inteligência artificial, que exige enorme poder de processamento baseado em GPUs e abre espaço para megaestruturas de “giga data centers”.

Infraestrutura crítica

O executivo lembrou ainda que os data centers já são parte essencial da vida dos brasileiros, sustentando desde serviços financeiros até chamadas por aplicativos de mensagem. Com cerca de 22 mil ISPs (provedores regionais) distribuídos pelo país, a infraestrutura digital garante acesso até mesmo em localidades remotas.

“Assim como energia e telecomunicações, data centers são infraestrutura crítica. Precisam de regulação clara e políticas que deem segurança ao investidor. Com energia, conectividade e a revisão tributária, o Brasil tem tudo para surfar essa onda global”, concluiu.