
Nos próximos dez anos, o setor elétrico brasileiro deve receber cerca de R$ 600 bilhões em investimentos, dos quais R$ 470 bilhões destinados à geração e aproximadamente R$ 130 bilhões à transmissão. A estimativa, apresentada pelo presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Thiago Prado, ocorreu no workshop promovido pela Aneel: “Horizonte Renovável: A era dos Data Centers no Brasil”. Thiago acredita que esse volume de recursos de investimentos pode crescer ainda mais diante do aumento da demanda por data centers e do avanço do mercado de hidrogênio verde. O executivo participou do Painel 1: “O papel dos Data Centers no processo de transformação digital”.
Data centers e IA puxam demanda
O presidente da EPE destacou que o Brasil reúne condições estratégicas para atrair grandes centros de processamento de dados. O país combina extensão territorial, mais de 200 milhões de consumidores e uma economia cada vez mais digitalizada. Além de novos empreendimentos, há expectativa de que data centers em operação em outros países sejam transferidos para cá, liberando capacidade no exterior para projetos ligados ao treinamento de inteligência artificial.
O desafio, segundo a Thiago Prado, será lidar com cargas altamente variáveis, o que exigirá do Operador Nacional do Sistema (ONS) estratégias de gestão em tempo real. “Não se trata apenas de integrar geração variável, mas também uma demanda com oscilações intensas”, afirmou.
Vantagens competitivas
A matriz elétrica brasileira é composta por 92% de fontes renováveis, com emissões muito inferiores às médias dos Estados Unidos, Europa e países da OCDE. Outro diferencial é a velocidade na construção de infraestrutura: enquanto em outros países a implantação de linhas de transmissão pode levar até 11 anos, no Brasil esse prazo gira em torno de 5 anos.
Hoje, a EPE monitora 50 projetos no pipeline, somando cerca de 14 gigawatts. Desde 2023, a estatal intensificou estudos para integrar a demanda dos data centers ao planejamento energético, incluindo análises sobre refrigeração, processamento e eficiência no consumo de energia.
Leilões e reforços em São Paulo
No leilão de outubro, está previsto um lote de transmissão em São Paulo, com investimento estimado em R$ 850 milhões, para ampliar a capacidade de conexão em áreas como Barueri, Santana do Parnaíba e parte da capital paulista. Outros reforços já estão mapeados para os leilões de 2026.
A expansão exige atenção regulatória. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) avançou na normatização do acesso às redes, incluindo exigência de garantias específicas para grandes consumidores. A EPE também firmou parcerias com empreendedores para incorporar informações de carga ao planejamento, aumentando a segurança dos investimentos.
Data centers flexíveis
Um dos temas em estudo é a adoção dos chamados “data centers flexíveis”, já praticados em países com forte concentração desse tipo de infraestrutura. Nesses casos, os operadores podem solicitar redução temporária da carga de processamento para equilibrar a rede elétrica. A possibilidade de aplicar esse modelo no Brasil dependerá de ajustes regulatórios e de novos mecanismos de operação.
“O país precisa avaliar se essas grandes cargas devem ter tratamento diferenciado, de modo a garantir eficiência na operação e segurança do sistema”, concluiu o presidente da EPE. Veja a apresentação de Thiago Prado, presidente da EPE: