Economia Circular e os Limites Planetários

Por Edson Grandisoli* – Nas últimas décadas, a pauta ambiental tem ganhado espaço, lideranças e incontáveis iniciativas em todos os países do mundo, que buscam caminhos na direção de um desenvolvimento socioeconômico mais justo, inclusivo e que leve em consideração os contornos de um planeta único, frágil e finito.

De externalidade, o ambiente foi assumindo papel protagonista, ficando claro que não há economia sem pessoas, e não há pessoas sem ambiente. Apesar dessa relação parecer óbvia, o que temos atestado é a contramão do óbvio, uma vez que não há um único indicador que aponte um verdadeiro impacto positivo das atividades humanas em escala. O conceito de limites planetários foi introduzido por Rockström et al. (2009) e, a partir dele, os cientistas têm criado um mapa assertivo do estado do sistema Terra. O quadro atual indica que pelo menos 6 de 9 desses limites planetários já foram ultrapassados (Richardson, 2023), e continuar a operar como se estivéssemos fora de risco é, no mínimo, um erro civilizacional.

Os impactos negativos das atividades humanas nascem de escolhas históricas. O desmatamento, o uso intensivo de carvão, petróleo e seus derivados marcam o século XX e XXI de maneira a colocar em risco nossa estabilidade climática. O consumo exagerado associado ao descarte inadequado de inúmeros tipos de plásticos, por exemplo, deixa suas marcas nos oceanos e dentro dos seres vivos na forma de microplásticos. De diferentes formas, essas escolhas podem ser resumidas pelo tripé “take-make-waste” (pegar-fazer-descartar), base de nossa Economia Linear, que concretiza nossa visão recursista e utilitarista da Terra análoga a uma prateleira de um supermercado.

A preocupação com o planeta também já era destaque com o economista Britânico Kenneth Boulding por meio do seu livro The Economics of the Coming Spaceship Earth (1966), que tratou da urgência de repensarmos como nos relacionamos com os recursos do planeta e como deveríamos eliminar todas as formas de poluição e lixo.

Ou seja, a partir do olhar cuidadoso para o ambiente, Carson e Boulding colocam em xeque um modelo de desenvolvimento poluidor, que desperdiça grandes quantidades de recursos naturais, que destroi ambientes e gera desigualdades. Estavam lançadas as bases para o que hoje chamamos de Economia Circular, uma nova forma de olhar para os recursos, para os ambientes e para as pessoas.

A Economia Circular já tem ajudado a criar novos cenários mais sustentáveis e inclusivos ao redor do globo. Como ela já está presente na sua vida e como podemos colaborar para a construção de sociedades mais circulares?


*Edson GrandisoliEmbaixador e coordenador pedagógico do Movimento Circular, Mestre em Ecologia, Doutor em Educação e Sustentabilidade pela Universidade de São Paulo (USP), Pós-Doutor pelo Programa Cidades Globais (IEA-USP) e especialista em Economia Circular pela UNSCC da ONU. É também coidealizador do Movimento Escolas pelo Clima, pesquisador na área de Educação e editor adjunto da Revista Ambiente & Sociedade.