A Companhia de Tecnologia de Informação do Paraná (Celepar) contratou sem licitação no último dia 23 de setembro a consultoria Ernest & Young, para fazer uma radiografia completa da empresa. O resultado do serviço poderá servir de base para o governo paranaense promover a privatização da empresa pública. O contrato tem um “valor inicial” de R$ 2.646.241,40 para pagamento a ser feito até o final de novembro pela Celepar. Mas este acordo comercial poderá sair mais caro, já que a estatal paranaense estabeleceu o prazo de vigência do contrato até 23 de março de 2025, o que pressupõe que haverá renovação.
O contrato da Celepar com a Ernest & Young não deixa claro que a intenção final seja a privatização da empresa. Informa que a consultoria fará uma série de “diligências” com o fim de buscar informações financeiras, contábeis, tributárias, previdenciárias e trabalhistas. Ainda fará um levantamentos dos ativos de tecnologia da informação e cibernéticos e também um diligência jurídica. Terá assessoria de comunicação. Além disso fica encarregada da coordenação geral do processo.
Mesmo não sendo clara a intenção de venda da Celepar, de forma sutil a estatal informou no acordo que pagará os custos de viagens de funcionários da consultoria, para eventuais reuniões externas, em Curitiba, em outras cidades do território nacional, ou internacionais, ao longo do “Road Show, sempre que necessário”. Uma característica de quem deseja vender uma companhia e está em busca de um comprador no mercado, seja no Brasil ou fora do país.
Há ainda uma denúncia feita em agosto pelo deputado estadual do PT, Arilson Chiorato, sobre a privatização. Ele chegou a apresentar para a imprensa do Paraná a primeira página do texto de um projeto de lei, no qual o governador, Ratinho Júnior, solicita à Assembléia Legislativa autorização para a venda. Chiorato acredita que o texto desse pedido do governador chegue à Assembléia logo após o fechamento das urnas do segundo turno das eleições municipais que ocorrerá neste domingo (27).
Ratinhio negou a intenção, mas o documento foi confirmado depois no mesmo mês de agosto, pelo novo presidente da Assembléia Legislativa, deputado Alexandre Curi (PSD), durante uma entrevista que concedeu à uma estação de rádio FM.
A batalha contra a privatização de Celepar deverá ser intensa e dentre as questões a serem levantadas pelo deputado petista Arilson Chiorato, será a da proteção de dados. Chiorato teme possibilidade de todos os dados dos cidadãos paranaenses acabarem nas mãos de empresas privadas dentro ou fora do Brasil.
Essa denúncia também foi bastante difundida em Brasília pelos funcionários do Serpro e da Dataprev durante o Governo Bolsonaro, quando as duas empresas entraram para a lista de privatizações do extinto Ministério da Economia. Na época um grupo de funcionários do Serpro criou a campanha “Salvem seus Dados”, para tentar mobilizar a população a ser contra a privatização.
A venda do Serpro e da Dataprev não ocorreu, a campanha tornou-se desnecessária, mas rendeu para alguns dirigentes cargos na Diretoria de Pessoas do Serpro. Hoje essa mesma turma está calada diante do processo de privatização branca que vem ocorrendo na estatal, através do desmonte de áreas importantes e a contratação de empresas privadas, para realizarem atividades que deveriam justificar a sua existência: o desenvolvimento de software, por exemplo.
*Foto: José Fernando Ogura/AEN.