O Sal da Terra

Por Jeovani e Luciana Salomão* O dinheiro provoca debates, movimentos, conflitos, evoluções e revoluções. Luciana, minha esposa, e eu, temos abordagens complementares sobre o tema, fato que nos permitiu, ao longo do nosso relacionamento, fazer com que as finanças fossem objeto de prosperidade, ao invés escassez. 

Em um jantar, veio a ideia de unir nossas percepções em uma produção conjunta, que deu origem a este texto. Imediatamente após o convite para produzir o material, nos lembramos da origem da palavra salário e surgiu a associação com a música O SAL DA TERRA, de Beto Guedes. Por curiosidade, ouvimos novamente a canção antes de começar a escrever e de forma surpreendente, sem que tenhamos nos atentado previamente ao fato, a canção cita uma vez a palavra dinheiro, no seguinte trecho:

“O sal da
Terra, és o mais bonito dos planetas
Tão te maltratando por dinheiro…”

Associando a ambição do ser humano em detrimento a preservação e cuidado da nossa mãe TERRA. 

Foi atribuído ao dinheiro, ao longo dos tempos, um poder e uma carga emocional que na realidade não são intrínsecos a ele, mas pertencem, exclusivamente, ao indivíduo. Em essência, ele continua sendo apenas um instrumento que utilizamos para facilitar as nossas trocas. Somente o ser humano tem o poder de decidir onde, de que forma e como usá-lo.

Cada pessoa possui o poder de dar significado ao dinheiro, estabelecer sua relação com ele e determinar sua finalidade. Infelizmente, a deseducação na área, os preconceitos e, inclusive, mitos religiosos afastam a maior parte dos indivíduos da prosperidade. Por exemplo, apesar da escravidão no Brasil ter acabado oficialmente há mais de um século, ainda hoje convivemos com uma grande parcela da população escravizada em função das próprias crenças limitantes sobre as finanças.

A história do dinheiro, por sinal, é baseada justamente em crenças, mas também em confiança e credibilidade. Afinal, as notas, as moedas ou qualquer outra representação do dito cujo não possuem em si um valor próprio. Quanto vale uma moeda de 1 real? Pode valer 1 real se você estiver no Brasil, mas se você estiver no Alasca não vale nada.

Este conceito, de que o dinheiro é um símbolo de valor, permitiu as evoluções que nos levaram do sal às primeiras moedas impressas em ouro e prata – cuja origem remonta à 600 A.C. na Lídia, atual Tunísia – e agora até as criptomoedas. Estas últimas são o ápice do  rompimento com o lastro físico, porque sequer há uma figura central que lhe confira credibilidade, bem como o ponto mais alto da desmaterialização – não faz nenhum sentido ter uma “nota” de Bitcoin. Quando as referências são as moedas tradicionais, Real, Dólar, Euro ou qualquer outra, sempre existe uma garantia de que aquele pedaço de papel possui valor de troca, assegurado pelo país emissor. A propósito,  até o século XVII, aproximadamente, somente se poderia emitir uma quantidade de dinheiro correspondente à uma quantidade de ouro equivalente.

No caso das moedas virtuais, não há controle central. Os dados são espalhados por diversos computadores ao redor do mundo registrando, de forma inequívoca e segura, a propriedade e a circulação dos valores. Talvez seja  o primeiro movimento realmente consistente de contraposição aos governos centralizados. Uma mudança que pode gerar impactos geopolíticos em um futuro próximo.

Sob o aspecto tecnológico, cada vez mais sofisticado, temos visto a enorme evolução desta ferramenta ao longo dos séculos, com uma aceleração extraordinária nos últimos anos, em diversas facetas, como é o caso dos meios de pagamento. Recentemente, apenas para citar uma das muitas novidades, o WhatsApp começou a permitir transferências financeiras pelo aplicativo. Em contraposição, a capacidade do ser humano em lidar com suas emoções e relacionar-se adequadamente com o dinheiro, de decidir mais conscientemente e de respeitar o ecossistema em que estamos inseridos ainda caminha a passos lentos.

E retornamos mais uma vez ao ponto que conecta todas as ideias deste artigo: as crenças. Elas são criadas e alimentadas a partir de histórias que ESCOLHEMOS acreditar ao longo de nossas vidas. Infelizmente a maior parte da população não possui nenhum grau de sofisticação em relação aos assuntos financeiros. O avanço dos modelos, das estratégias e da tecnologia são secundários para este grupo. Eles respondem ao mundo e se comportam de acordo com padrões estabelecidos e regras impostas que não necessariamente são verdadeiras. Aceitar verdades externas, sem refletir ou questionar, e simplesmente se submeter a elas, faz com que se perca a oportunidade de crescer. É necessário olhar para dentro e se escutar, com o intuito de perceber o que realmente é importante para cada um na condição de ser único. É descobrir o que faz sentido e tem significado.

Tomar consciência do nosso real propósito é uma linda, longa e super desafiante jornada. Para tanto, dentre diversos fatores, é imprescindível reconhecer o poder do dinheiro, de maneira que ele se conecte com os ideais individuais e possa fluir de forma natural em nossas vidas, como deve ser. Desta maneira, avançaremos para uma relação de paz e abundância com quem realmente somos, com o que valorizamos e o com o que queremos de fato SER, FAZER e TER, exatamente nesta ordem.

* Jeovani Salomão é fundador e presidente do Conselho de Administração da Memora Processos SA e ex-presidente do Sinfor e da Assespro Nacional. Luciana Salomão é empresária e consultora na área de finanças.