A “Missão 5G” que o governo brasileiro fará a partir do próximo domingo aos Estados Unidos – cujo foco das reuniões será com a área de segurança cibernética do governo norte-americano, reuniões que envolverão até a CIA e o FBI – contará com o senador Flávio Bolsonaro.
O parlamentar irá na viagem como representante da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Além dele, também integrará a comitiva o senador Ciro Nogueira, na qualidade de representante da Comissão de Relações Exteriores do Senado.
É estranha a presença dos dois senadores. O leilão das frequências do 5G não terá relação alguma com o Legislativo e muito menos se tem notícias de alguma participação pública dos senadores quanto a esse assunto. No mercado de Telecomunicações já tem até uma piada sobre a viagem de Flavio Bolsonaro e Ciro Nogueira na “Missão 5G”: “eles vão aos EUA para tomar a vacina contra o Coronavírus”, brincam alguns executivos do setor.
Ninguém das comissões de Infraestrutura ou de Ciência e Tecnologia do Senado estarão presentes na viagem. Justamente as duas comissões que foram criadas para discutir assuntos pertinentes ao setor de Telecomunicações no Senado Federal. Também ainda não há informações sobre quem representará a Câmara dos Deputados nessa viagem, apesar daquela casa legislativa ter um Grupo de Trabalho para tratar do assunto.
Rede privativa virou prioridade
“Vamos para Washington conhecer a rede privativa do Departamento de Defesa dos Estados Unidos e conversar com investidores. Nessa viagem agora vamos fazer com que os ministros e técnicos do TCU acompanhem a rede privativa para tentar entender algumas dúvidas em relação a esse processo”, disse o ministro das Comunicações em entrevista coletiva realizada hoje (02).
É curioso que ministros do Tribunal de Contas da União, inclusive o relator do edital de leilão do 5G, precisem do auxílio governamental para tirarem “dúvidas” em encontros sobre redes privativas com o governo norte-americano.
Que dúvidas?
Até agora as única “dúvida” tornada informalmente pública pelo TCU foi o questionamento quanto ao uso de dinheiro arrecadado com o leilão do 5G poder ser gasto sem a devida cobertura orçamentária, como quer o ministro Fabio Faria. Não constava até agora que os ministros do tribunal estivessem preocupados com o modelo de rede privativa a ser adotada no Brasil, que por edital será uma atribuição das empresas de telefonia móvel construir após comprarem a preços mais baratos as frequências do 5G.
O ministro Fabio Faria justifica essa necessidade, porque países que de alguma forma já adotam o 5G podem contribuir com informações sobre as suas infraestruturas privativas. E citou os cinco países que já trabalham com redes privativas: EUA, Coreia do Sul, Japão, Alemanha e Finlândia.
Mas aos ministros do TCU?
Curioso como em nenhuma das viagens oficiais anteriores que o governo brasileiro realizou este ano, inclusive com a presença de ministros do TCU, houve esse interesse de buscar informações voltadas à construção da uma infraestrutura da rede privativa 5G. Pelo menos não com as áreas de segurança cibernética dos governos visitados.
Por que somente somente agora foi levantada essa preocupação com os norte-americanos?
Suécia
Em fevereiro deste ano, na viagem que fez à Suécia, por exemplo, o ministro se ateve a encontros com empresas. Para não dizer que não teve um único evento de caráter governamental, Fabio Faria e comitiva se reuniram com o ministro da Infraestrutura Energética e Desenvolvimento Digital da Suécia, Anders Ygeman.
Fora esse encontro, que ocorreu no dia 2 de fevereiro, o ministro das Comunicações ainda participou das seguintes reuniões e eventos:
- Dia 3 de fevereiro: reunião com o Embaixador do Brasil naquele país, Nelson Tabajara.
- Dia 4 de fevereiro: reunião na sede da Ericsson em Kista e visita ao centro de protótipos 5G da companhia. No mesmo dia ocorreu uma visita à sede da Holding Investor AB, um fundo de investimentos sueco criado em 1916, que tem participações societárias em diversos conglomerados econômicos suecos. Para fechar a agenda sueca, Faria ainda participou de uma “videoconferência” com o CEO da Ericsson, Borje Ekholm, e da Ericsson Brasil, Eduardo Ricotta. Coisa que poderia ter feito no Brasil, não precisava ter gastado passagem e hospedagem até à Suécia.
Finlândia
A mesma delegação também manteve reuniões com representantes do governo finlandês, mas nenhum que estivesse diretamente ligado à estrutura governamental de defesa cibernética. Faria e comitiva se reuniram com o CEO da Nokia, Pekka Lundmark, e visitou às instalações da empresa na Finlândia. Teve ainda reuniões com o Ministro das Comunicações e Transporte da Finlândia, Timo Harakka, o da Cooperação em Desenvolvimento e Comércio Exterior, Ville Skinnari e o Embaixador do Brasil na Finlândia, João Luiz Pereira Pinto.
Ásia
Fabio Faria e a “Missão 5G” estiveram num encontro com o vice-ministro da Economia, Comércio e Indústria do Japão, Yasumasa Nagasaka, no dia 9 de fevereiro. E na mesma data a delegação visitou a NEC Corporation, se reuniu com o vice-ministro dos Assuntos Internos e das Comunicações do Japão, Masayoshi Shintani e encerrou a agenda com uma visita à sede da Fujitsu.
A “Missão 5G” se deslocou depois para a China, onde também realizou visitas relâmpagos ao Salão de Exposições Galileo em Shenzhen, no dia 10 de fevereiro, e ao Salão de Exposição Transformação Digital em Shenzhen. Ainda na mesma data Faria e comitiva se reuniram com o CEO da Huawei Global, Ken Hu, visitou o Cyber Security Privacy Protection Transparency Center em Dongguan. A viagem foi concluída no mesmo dia com uma visitinha rápida pelo Huawei Ox Horn Campus.
A missão 5G aos EUA começa no próximo domingo, com retorno previsto para o próximo dia 10 de junho. Cerca de 15 integrantes deverão fazer parte da comitiva brasileira, formada pelo Ministério das Comunicações, Ministério da Defesa, Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, Tribunal de Contas da União, Anatel e Senado Federal.
*Essas viagens carecem de maiores explicações, mas rezem para que elas não sejam dadas por Fabio Faria. Não sendo o Twitter, o ministro continua demonstrando pouca intimidade com a pasta.