Ontem (5), o Ministério das Comunicações divulgou uma reportagem sobre o sucesso do programa Wi-Fi Brasil, que já teria conectado 13,2 mil pontos de Internet no Brasil. O programa silenciosamente vem dando resultados por ser simples. Não necessita de uma infraestrutura de cabeamento em fibra óptica, nem tampouco do auxílio duvidoso de provedores de Internet ou das teles, que se não tiverem lucro não entram.
Está dando certo porque o governo conta com um satélite, uma empresa privada e a estatal Telebras para realizá-lo, mesmo que a empresa pública trabalhe todos os dias com a espada privatização sobre a sua cabeça.
O programa não é de Fabio Faria, muito menos de Bolsonaro. Nasceu com o ex-ministro das Comunicações, Hélio Costa, no Governo Lula. E sua principal função era conectar escolas, postos de saúde, segurança e unidades de serviço público localizadas em áreas remotas que estivessem em região de fronteira ou de interesse estratégico. Porém, o programa na época de Hélio Costa era mais abrangente, pois além de conectar os pontos oficiais, criava telecentros, o que demandava compra de equipamentos de informática. Na época o Brasil ainda engatinhava na conectividade móvel.
Com o passar dos anos, na gestão de Gilberto Kassab, o Ministério das Comunicações foi absorvido pelo da Ciência e Tecnologia. Mas o programa continuou a ser tocado sem sequer trocar de nome, e ainda ganhou o reforço comercial de uma empresa privada. Kassab foi pragmático e manteve o mesmo nome, pois o que lhe interessava era saber se dava resultados e não quem era o “pai da criança”. Ele deixou a pasta supostamente com 11 mil conexões em funcionamento. Quantas efetivamente foram dele e quantas foram legado dos governos petistas ninguém sabe ao certo.
Como a retomada do Ministério das Comunicações ocorreu em 2020 com a sua reativação e a chegada de Fábio Faria foi em julho do ano passado, soa como improvável (para não dizer falsa) a informação de que o programa Gesac – que primeiro virou “Wi-Fi na Praça” e depois passou a ser chamado de “Wi-Fi Brasil” – tenha conectado em menos de nove meses 13,2 mil pontos. Em sua maioria, ao que parece, já estava em funcionamento.
Paternidade x resultados
É possível que Faria apenas tenha conectado 2,2 mil pontos. Mas mesmo para chegar a essa conta ainda há dúvidas se realmente isso ocorreu. O ministério não é claro ao fornecer (quando fornece) tais informações.
Não é nenhum demérito para ele não ter conectado os 13,2 mil pontos. Outras conexões virão e igual número facilmente poderá ser alcançado, ainda neste governo. Basta que Fabio Faria pare de se preocupar com narrativas e se volte para o essencial: mantenha a Telebras e o parceiro privado na missão de conectar quem ainda está excluído, seja no campo ou em pequenas localidades.
Ministro, o que realmente importa está nesse mapa que a tal “reportagem” apresentou. É aqui que o seu senso político ou crítico deve se deter:
Esse mapa mostra o potencial que tem a conexão por satélite nessas áreas e como tem sido mais rápido conectar a população do que por meio de fibra. A infraestrutura exigida é mínima, até em termos de custo e tempo de implantação, se comparado ao imenso trabalho de enterrar fibras em leitos de rios num país com o tamanho do Brasil.
Esse mapa senhor ministro, é a constatação do que eu já lhe alertei. A região amazônica continua apagada, com apenas 27%, porque desde o Governo Dilma insistem em gastar com fibras ópticas nesses leitos de rios, num programa que é caro, demanda depois um alto custo de manutenção técnica numa região carente desses serviços. Ele não deu certo antes e não tem nenhuma novidade que possa afirmar ou garantir ao senhor que dará certo agora. Ouça o TCU à respeito, se não acreditar no que eu estou lhe dizendo.
Ainda mais sendo chamada para executa-lo uma organização “sem fins lucrativos” como a RNP – Rede Nacional de Ensino e Pesquisa, que já fincou o pé no seu ministério e todos sabem que se nada fez no “Amazônia Conectada” de Dilma, não há motivos para dar certo agora com o dinheiro que receberá do leilão do 5G.
Fabio Faria, o ex-governador de Pernambuco, Joaquim Francisco, tinha uma célebre frase (acho que não era dele) para explicar a demora na tomada de decisão e execução de projetos: “Não tenha a pressa que aniquile o verso”, dizia ele aos repórteres que lhe cobravam algo.
*Tenha em mente o seu tempo de realizar e não a quantidade de pontos que irá conectar. Você será lembrado por todos aqueles que ganharam o acesso ao conhecimento e não pela quantidade de pontos de Internet que inaugurou.