Compras públicas: o melhor preço nem sempre traduz qualidade do serviço (1)

Fiz uma entrevista com Edenize Maron, uma especialista em compras públicas e Gerente-Geral da Rimini Street. Conversamos sobre vários temas e dividi a entrevista em três partes. Esta é a primeira parte do nosso bate-papo e vale a pena assistir, porque Edenize toca em questões importantes como a centralização de compras em poucos prestadores globais de serviços e a velha discussão sobre o preço ser a escolha de uma determinada tecnologia, em detrimento da capacitação técnica para executá-lo e dos resultados que ela produzirá.

Na visão de Edenize Maron, o nível de exigência do cidadão no acesso à tecnologia no setor público tem aumentado em função da visibilidade que o setor vem ganhando nos últimos tempos, especialmente pelo fato de que as ferramentas disponíveis apresentam boa qualidade. No entanto, ela destaca que tanto no público quanto no privado, a tecnologia sempre demandou muito investimento. A diferença é que o tempo de implementação na área pública é mais longo.

A gerente também destaca que é momento as empresas e órgãos púbicos a avaliarem as ferramentas tecnológica que têm há seu acervo e pesquisarem o que há de novo no mercado, uma vez que qualquer gasto em tecnologia demanda muito recurso. Até porque, a população é grande e quer serviço público com eficiência.

Ao fazer uma reflexão, Edenize Maron diz que o Governo Federal ainda gasta bilhões de Reais com tecnologia, pois no passado, montou um legado que demanda gastos anuais para continuar oferecendo os serviços. Ela destaca que é preciso fazer uma avaliação para que os mesmos recursos sejam investidos em projetos reestruturantes.

Segundo a gerente, alguns órgãos do Governo Federal já trabalham neste sentido. “Em 2018, o Tribunal de Contas da União (TCU) publicou acórdão questionando os gastos para adquirir a mesma tecnologia com o mesmo prestador de serviço, por meio de inexigibilidade por notória especialização. Agora, as compras começam a ser por meio de pregão, o que inclui mais empresas no processo”.

A executiva lembra que, no acórdão, o Tribunal questionou o fato de o governo comprar de a penas cinco empresas globais. “A crítica vai em cima do sistema de compra, pois o governo ainda gasta mal e também no fato de haver poucas pessoas qualificadas para operar a tecnologia adquirida”, comenta. Nesse sentido, Maron comenta que é preciso avaliar o fato de as empresas oferecerem muitos profissionais com pouca experiência para operarem as ferramentas.

O cenário ocorre, de acordo com ela, por conta da pressão do governo em querer pagar o valor mínimo. Uma das alternativas para modificar a situação é flexibilizar a manutenção. “Por que fazer a manutenção do seu carro sempre na concessionária, inclusive depois do tempo em que você já pagou por ele? ” Compara.

Edenize Maron diz que é preciso montar um processo de aquisição para o gesto público não correr riscos. “Uma empresa, como a nossa”, não é fabricante, mas tem toda a condição de promover o suporte que a cliente precisa. Isso é comprovado em vários países onde atuamos. “Se o contratante se atentar para isto, consegue comprar de forma mais eficiente”.