Coury, já que estamos falando sobre o “amanhã”, pense sobre como você será lembrado no futuro

Em primeiro lugar afirmo que não sou contra a venda de parte do controle de uma estatal. Não tem sentido o governo ser dono de 100% do negócio. Um parceiro privado traria dinheiro, que a empresa não tem, além de conhecimento e inovação, coisas que se perderam na empresa ao longo dos anos de completa restrição orçamentária.

O Serpro está inchado? Sim. Tem gente demais batendo cabeça sem necessidade? Sim. São problemas que a empresa terá de enfrentar algum dia.

Mas daí vender toda a empresa se valendo dessas justificativas, como querem fazer a população crer, é pura má-fé.

Ninguém está discutindo seriamente isso no governo. O que se quer é apenas abrir os bancos de dados para os tubarões da Internet e vender a empresa para conseguir superavit primário nas contas públicas. Como foi feito com a venda das frequências da telefonia – em que nenhum centavo ficou para o custeio e investimentos da Anatel. Isso é um crime contra um patrimônio público.

Há inúmeros argumentos contra a permanência do Serpro no mercado de TI do setor público. Mas considero que 90% deles ou são infundados ou denotam a má-fé de quem levanta a voz contra a existência da empresa.

Principalmente quando essas críticas partem do setor privado.

Não tem coisa mais abjeta do que empresários de TI reclamando da presença estatal nesse mercado. Só defendem “menos Estado” quando se trata de defender a venda empresas públicas, que prestam serviços públicos mais baratos e de vez em quando com melhor qualidade do que prestariam.

A tese do “menos Estado” serve para vender estatal. Mas na hora de querer ficar pendurado no governo pedindo incentivos fiscais e investimento em Inovação, todos querem esse mesmo “Estado” como parceiro. Para essa turma, o modelo estatal só é bom quando significa dinheiro público em caixa ou isenção de impostos.

Mas voltando ao que interessa, caro diretor Wilson Coury, o seu programa do “amanhã” é uma piada de mau gosto com o funcionário da empresa, os seus colegas de trabalho de tantos anos. O mau gosto não estaria no programa em si, mas na desfaçatez com que o senhor o defende.

Porque é patente que, se o Serpro cair, e ao que tudo indica, cairá, o senhor ainda tem onde encostar o esqueleto. Ou o senhor vai negar que colocou um preposto na diretoria da RNP, para ficar guardando o seu lugar até a sua volta, após cumprir a “missão” de desmontar o Serpro?

No momento Wilson Coury, você está rasgando uma biografia que eu até admirei aqui nessa página, quando soube que o seu nome foi ventilado para a diretoria.

*Pergunto se é isso que você quer levar para a sua aposentadoria: a alcunha de “coveiro de estatal”?