O Governo Dilma é pródigo em desconstruir aquilo que foi feito pelo Governo Lula ou pelo menos pensado, mas é fértil em imaginação e marketing.
No afã de fazer agenda positiva no Panamá, Dilma se reuniu com o dono do Facebook, Mark Zuckerberg, para anunciar o fechamento de um acordo, para um programa que ninguém viu, ninguém pensou e nem sabe como será, além da bela foto dos dois, claro.
“De acordo com a presidenta Dilma Rousseff, acordo vai levar a Internet para regiões remotas e garantir o acesso a serviços como educação e saúde”, diz a reportagem da Agência Brasil, que fez a cobertura da viagem presidencial.
Não sei e custo a acreditar que, do dia para a noite, o dono do Facebook tenha criado uma rede de telecomunicações no Brasil para fazer a tal inclusão digital, que volto a repetir: trata-se de universalização do acesso à Internet. Neste caso: ao Facebook.
Sem rede, começa o primeiro pepino a ser descascado por essa manobra pirotécnica política.
O segundo problema: como Dilma fecha um acordo sem falar primeiro com o seu ministro das Comunicações? A presidente mais uma vez agiu por impulso ou marketing da sua eficiente Comunicação. Não há nada programado para isso. Pode até ser que o ministro Ricardo Berzoini fale algo em socorro da presidenta, mas ele sabe que se meteu numa enrascada.
Se tivesse algo, por que Dilma não levaria o seu ministro das Comunicações ao Panamá para sair junto na foto, mostrando que o Governo, coeso, pensou num novo programa para universalização dos mais pobres à Internet?
Ahh podem argumentar: e o exitoso projeto Heliópolis (SP)? Como exemplo do que Dilma quer para a universalização? Coitada, ela nem deve saber direito onde fica Heliópolis, que dirá o que pretende esse programa, concebido para desenvolver o empreendorismo e a inovação na região, que mais cheira a formação de mão de obra barata para o próprio Facebook e não necessariamente para garantir o acesso de graça à Internet pelos mais pobres.
Aí, da pirotecnia política vem a falta de informação de quem deveria ser bem informado. A imprensa vai ouvir quem para entender esse projeto? Berzoini, o ministro das Comunicações que sequer foi chamado a opinar previamente sobre o tema.
E assim temos jornais misturando banda larga de 25 megas em rede fixa com celulares e a presidenta defendendo Internet de graça para a patuléia através de uma rede social.
Pergunto: alguém ouviu as verdadeiras donas das redes (leia-se, as teles) sobre esse programa gratuito?
E alguém discutiu com a presidenta o que seria quebra de “neutralidade de rede”, quando ela deseja embutir “alguns aplicativos ou ações de governo” nesse programa, que ela defendeu ao aprovar no Marco Civil da Internet?
* Gente boa no governo e fora dele, porque ela mandou embora, não falta para pensar num programa sério e consistente para a inclusão digital ou pelo menos a universalização do acesso à Internet. Falta deixar o povo trabalhar e não se meter em ações de marketing desastrado.