Decisão da Anatel é inócua a curto prazo

A medida do governo de cancelar as vendas das operadoras móveis parece mais uma maneira de dar uma satisfação à opinião pública de que fazer algo efetivo para solucionar o problema.

O que significaria paralisar as vendas durante 30 dias para as operadoras?
Pelos números da Anatel, deixariam de ser vendidos em torno de 1,18 milhão de novas linhas, segundo os dados do mês de junho e sem descontar as vendas da VIVO que não foi atingida pela decisão da agência.

Fica a pergunta: ter menos 1,18 milhão de novas habilitações resolveria um problema de qualidade de serviços numa rede que já tem 256,1 milhões de linhas ativadas?

Os números mostram dois problemas distintos:

1 – As operadoras realmente venderam mais acessos que a capacidade das suas redes e os investimentos não acompanharam esse crescimento.

2 – De olho nas contas públicas o governo permitiu esse crescimento, pois arrecada muito com as teles. Ainda por cima vende frequências ao “Deus dará”, quando as empresas nem terminaram ainda de estruturar as redes que já dispõem.

Agora que foi pressionado por decisões judiciais favoráveis aos Procons, o governo tenta recuperar o tempo perdido e lucrar alguma coisa politicamente perante a população. Ação que a curto prazo não resolverá nada.

Basta um pouco de discernimento para entender que, o problema com as teles móveis é apenas mais um no quesito: “falta de planejamento estratégico e acompanhamento das ações de ampliação da infraestrutura”. E isso é uma constante no país em todos os setores econômicos, não só o de Telecomunicações. O país cresce rapidamente, mas não dispõe de infra suficiente para sustentar esse crescimento.

Portanto, as teles são culpadas pela má qualidade dos serviços que prestam, não há o que discutir. Venderam além da capacidade que dispõem e contavam com o famoso corpo mole da Anatel para fiscalizar e punir esse deslize.

Mas só fizeram porque o governo foi omisso durante anos na fiscalização e continua inepto na formulação de políticas que assegurem uma boa infraestrutura para escoar a produção, quer seja no meio agrícola, por exemplo, ou nos serviços de telecomunicações.

Cobrar agora da forma como decidiu fazer, parece a piada do marido que tira o sofá da sala, depois que pegou esposa namorando o vizinho nele.