Faria vai ao BID e anuncia dinheiro que não tem, a ser pago com leilão do 5G que ainda não fez

Não há um só dia que o ministro das Comunicações e do Twitter, Fabio Faria, nos deixe órfãos de um factóide político. Mesmo se estiver fora do país numa “missão” que merecia maiores explicações aos órgãos de controle como, o TCU, se este tribunal não fosse integrante da “comitiva”.

Hoje (09), após uma reunião não prevista na agenda oficial da “Missão 5G” aos EUA, o ministro das Comunicações e os senadores Flavio Bolsonaro e Ciro Nogueira, estiveram no BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento. Foram tratar de “investimentos” em projetos de conectividade para o Brasil.

A conta desse suposto “investimento” será paga com os recursos do leilão das frequências do 5G. Que ainda não tem data confirmada para ocorrer, nem tampouco se tem ideia de quanto será o valor para as empresas de telefonia interessadas nas frequências pagarem. Estima-se em R$ 35 bilhões o custo desse leilão para as teles, mas essa conta já chegou a ser cogitada em R$ 40 bilhões.

O ministro quer o leilão em agosto, no máximo, mas isso depende do que o TCU irá determinar em relação ao edital proposto pela Anatel. Mas para Fabio Faria tudo não passa de detalhe. Após o encontro com o presidente do BID, Mauricio Claver-Carone, o ministro correu para o órgão oficial de Comunicação Social do Governo Bolsonaro – o Twitter – e postou a seguinte mensagem (junto com um vídeo) para o povo brasileiro:

O anúncio do ministro carece de alguns reparos e indagações futuras da parte da imprensa sobre a informação plantada por ele hoje no Twitter.

Primeiro, o BID não concede “incentivos” e muito menos faz “investimentos” em projetos de infraestrutura nos países. Trata-se de um banco de fomento, não de uma instituição de caridade. País que contrair empréstimos com ele, mesmo que seja com juros mais baixos, terá de saldar essa dívida lá na frente. Portanto não há “investimento”. O que há é a disposição de um país cair no endividamento para algum determinado fim.

Em segundo lugar, dificilmente o BID se comprometeria após uma simples reunião com um ministro e dois senadores, em anunciar que irá “enviar” US$ 2 bilhões (cerca de R$ 7,2 bilhões ao câmbio atual) para o Brasil gastar em projetos de infraestrutura de Telecomunicações.

Ou o ministro acabou de produzir uma fake news ou está contando com um dinheiro que o governo brasileiro contraiu em algum outro pedido de empréstimo com o banco, que não era necessariamente destinado para obras de infraestrutura nesse setor.

E tem

O ministro Fabio Faria pode estar contando em por as mãos em U$$ 1 bilhão, que o BID anunciou como linha de crédito em favor do Ministério da Economia, dinheiro que será usado pela Secretaria de Governo Digital (SGD) para apoiar estados e municípios na digitalização de serviços públicos.

Outra receita que o ministro das Comunicações pode estar pensando em tirar do cofre de Paulo Guedes, seria um empréstimo de US$ 1 bilhão concedido pelo BID ao Brasil, para ser usado como um fundo de investimentos em projetos sustentáveis na Amazônia.

Permissão

Tem ainda mais um complicador para o discurso do ministro das Comunicações; empréstimos com bancos estrangeiros tem de passar pelo crivo do Ministério da Economia e ser aprovado depois pelo Senado Federal. Um tempo de espera que pode desesperar um ministro tão ávido a gastar e mostrar serviço ao chefe no Palácio do Planalto.

Talvez isso se explique a presença de dois senadores no encontro, inclusive um é filho do presidente da República. Resta saber se o Senado vai topar endividar o Brasil em mais R$ 7,2 bilhões com a economia mal acabando de sair do fundo do poço provocado pela pandemia do Covid-19.

Cineminha político

É até admissível pensar que Paulo Guedes possa ter sido convencido a canalizar os US$ 2 bilhões de empréstimos que fez com o BID, para obras de infraestrutura de redes da Amazônia e de programas de conectividade no resto do país. Em detrimento de gastar esses recursos em projetos sustentáveis na região Norte ou para estados e municípios realizarem a transformação digital.

Se isso ocorreu, então o que Fabio Faria fez hoje no BID foi um “cineminha político”, já que tudo estava acertado previamente com Paulo Guedes para o dinheiro ser desviado para a construção das redes de telecom. A ida ao BID hoje de Faria, que saiu do encontro com a imagem de quem numa única reunião obteve US$ 2 bilhões, foi apenas o desejo do ministro e dos senadores de aparecerem.

Custo/TCU

Mas Fabio Faria agora terá de explicar melhor essa sua postagem no Twitter, pois os números pujantes – em dólar – que anunciou na rede social, não batem com a conta que o governo supostamente encaminhou ao TCU referente aos gastos que fará na montagem da infraestrutura privativa de rede 5G e no Amazônia Conectada.

Se ele disse que US$ 1 bilhão (dólares) seguirá para projetos de conectividade da Amazônia, isso é praticamente o dobro do que previu para ser gasto na região, quando lançou o edital do leilão do 5G. Que inflação foi essa projetada no custo do Amazônia Conectada?

*Foi uma pena que o ministro Raimundo Carreiro, do TCU, não tenha participado dessa reunião no BID. Certamente ele teria recomendado mais cautela a um ministro cheio de disposição de plantar agenda positiva na Internet.