BB: se pretende sair do inferno, melhor não agir como o dono do local

Ontem, enquanto publicava a primeira nota da série: “Banco do Brasil e o inferno da Lava Jato”, o banco oficial concluía uma licitação para aquisição (e atualização) de soluções da BMC software, para a operação da área de mainframes.

Agora imaginem o seguinte cenário: um banco oficial, com dinheiro em caixa, bom pagador, oferece um serviço num país em que outras áreas da Administração Federal atrasam pagamentos a fornecedores por conta da crise.

Parece bom não é? Não foi.

O referido pregão, cujo preço estimado em dois lotes foi de R$ 77 milhões, pasmem, não foi capaz de atrair um único fornecedor. Ninguém deu as caras para pegar o negócio. Com o sugestivo número “666.165”, o pregão teve de ser declarado ‘deserto’ pelo Banco do Brasil.

Desde o dia 28 de março o BB está sem a devida assistência, porque colocou para correr a PBTI Soluções, depois que a empresa no ano passado caiu e arrastou o nome do banco oficial para o escândalo da Lava Jato.

Ontem cheguei a levantar as três hipóteses que o banco teria para resolver a questão com o fornecedor, embrulhado num escândalo de corrupção:

1 –  Ter um sócio novo no capital da PBTI Soluções,

2 – Ou mesmo um novo dono na empresa,

3 –  Ou uma nova empresa assumiria a revenda do Control-M e fecharia por inexigibilidade de licitação o contrato.

Aparentemente não errei muito na terceira opção. Mesmo deserto, o pregão pavimentou a estrada que levará o BB para um novo fornecedor de soluções da BMC Software.

Aí você me pergunta: “mas como um novo fornecedor, se o pregão terminou deserto, pois ninguém quis assumir o serviço?

Aí é que está o maquiavelismo comercial dos responsáveis pelo processo de compras. O pregão eletrônico pode ter sido mera fachada para explicar aos organismos de controle, no futuro, que um novo contrato foi assinado, desta vez até por dispensa de licitação, porque o Banco do Brasil encontra-se em situação emergencial. Convém lembrar o velho argumento de que o banco não pode parar de atender aos seus clientes, por causa de um problema em sua informática.

Mesmo que eu esteja errado nessa tese, por ter uma certa mania de achar que este país não é para amadores, caso o BB não assine um contrato emergencial, nada o impede de aplicar novamente a “inexigibilidade de licitação” para o novo fornecedor. Como fez há 60 meses com a PBTI Soluções, devido à notória especialização ou por não haver concorrentes na praça prestando serviços com os sistemas da BMC Software.

Mas devido ao escândalo da Lava Jato, vou dar um palpite sobre qual a montaria que o Banco do Brasil pode estar pensando em disputar o próximo páreo: contratar diretamente a BMC Software.

O banco se livraria de ser o responsável direto pela contratação de algum fornecedor com passado ruim, pois ele não estaria diretamente ligado ao contrato. Nada impede que o BB feche um acordo com a BMC Software e esta, por sua vez, contrate os serviços de terceiros.

A outra opção da nova diretoria de Tecnologia do BB seria fazer cara feia, cuspir no chão e, como macho, chamar algum outro fornecedor da BMC Software, mesmo que este já tenha visitado as dependências da Polícia Federal no passado, em algum outro escândalo de corrupção na área de TI.

Pelos perfis do novo vice-presidente de Tecnologia e do diretor, eles não me parecem que gostam de viver perigosamente, tentando consertar um contrato que herdaram de forma tão complicada.

*Mas isso aí eu deixo para os deuses do controle externo, que estão lá em cima vendo tudo. E de vez em quando agem com a mão pesada.